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É Desporto

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15 de Maio, 2017

Zidane. O bailado que deixaria Fred Astaire corado

Rui Pedro Silva

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A execução era difícil mas Zidane acreditou. A lógica jogava a favor do francês: se falhasse, seria um lance que se esqueceria durante o intervalo, já à porta. Se corresse bem, o momento seria eterno e ficaria encrustado num pedaço de memória de todos aqueles que tiveram a possibilidade de ver o golo ao vivo. Faz hoje 15 anos e é impossível esquecer. 

 
Um dançarino com dois pés direitos
 
O marcador cantarolava 1-1 e os nervos estavam aí. O intervalo estava a chegar, como um sossego bem-vindo. Helguera, em vez de acalmias, decidiu acelerar para a esquerda, para o pé de Roberto Carlos. O brasileiro recebeu, tocou para Solari, no meio, e desatou a correr para a frente. Solari, com a sua canhota mágica que já encantara no Atlético Madrid, deu dois toques na bola, os suficientes para isolar o lateral que parecia um foguete pelo corredor esquerdo...
 
A bola do argentino tinha uma armadilha. O toque de classe de Santiago Solari levava um dança digna do Teatro Colón em Buenos Aires. Roberto Carlos passou Schneider de mota, na correria, e travou quando a menina vestida de branco decidiu abrandar. O melhor que o brasileiro conseguiu foi um pontapé para o ar, com direito a bailarico, quem sabe em honra do homem para quem a bola seguiu, o génio maior do bailado internacional. 
 
A bola subiu. Subiu, subiu e subiu. Zidane, um velhote que não era velho mas que previa o futuro, parou e esperou. Foi posicionando o corpo. Tinha tempo, muito tempo. A encomenda de Roberto Carlos esqueceu o mapa e tomou o caminho mais longo. Zidane, de repente, parecia ser um ninja, pronto para um golpe à karate kid. "Nããão, ele não vai fazer aquilo". Aquilo tinha de ir para as couves, desculpem. Nem os esquerdinos pegavam na bola tão bem.
 
Ela, pairando no ar, aproveitou a vista lá de cima, mas cansou-se de esperar. Desceu, vertiginosamente, como se fosse um bombardeamento. Zidane executou então um movimento que, se a bola fosse apagada e o palco mudado, deixaria Fred Astaire corado. O volei foi perfeito, com a canhota. Butt nada poderia fazer. E, mesmo que pudesse, era bom que não fizesse. Um dos golos mais especiais da história das finais da Liga dos Campeões estava ali, diante de nós, a ganhar o direito à imortalidade.
 
Estava tudo de boca aberta. Foi um intervalo inteiro a pensar naquilo. Foi o 2-1 para o Real Madrid, resultado que se iria manter até final da final da Champions de 2002 vs. Bayer Leverkusen, em Glasgow, perante pouco mais de 50 mil adeptos.Faz hoje, 15 de maio, 15 anos desse monumento eterno levantado na nossa lembrança.
 

HTS