Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

É Desporto

É Desporto

29 de Janeiro, 2018

Vonetta Flowers. A velocista que fez história no bobsleigh

Rui Pedro Silva

vonetta.jpg

Nasceu no Alabama em 1973 e deu nas vistas no atletismo, competindo em provas de velocidade e no salto em comprimento. Mas o sucesso olímpico só aconteceu quando mudou a agulha para o bobsleigh e se tornou, em 2002, a primeira afro-americana a vencer uma medalha de ouro nos Jogos de Inverno. 

 

Pernas, para que vos quero?

 

O bobsleigh é uma das modalidades mais emblemáticas dos Jogos Olímpicos de Inverno, muito por culpa da história que levou uma equipa jamaicana a competir em 1988. Este ano, em PyeongChang, curiosamente, o bobsleigh feminino vai voltar a estar no centro das atenções: além da Jamaica, que regressa à procura de algo mais, também a Nigéria vai competir, tornando-se a primeira seleção africana a participar na prova.

 

O desporto é bom de se ver. Começa com uma série de atletas a correr de forma desalmada enquanto empurram aquilo que parece um carrinho de brincar por uma pista estreita de gelo. Depois, à vez, enfiam-se lá para dentro e seguem, sempre muito coordenados, até ao cruzar da meta, atingindo velocidades estonteantes e com curvas diabólicas capazes de proporcionar despistes feios.

 

Mas, lá está, é espetacular. Os méritos de um atleta no bobsleigh são vários, mas a velocidade e a força são capazes de ser os dois primeiros a entrar em ação na prova. Talvez por isso Sam McGuffie, um antigo running back de futebol americano, que era estrela no ensino secundário e esteve em três equipas na NFL, se tenha rendido ao desporto e garantido uma vaga na equipa olímpica dos Estados Unidos em 2018.

 

O exemplo de Vonetta Flowers

vonetta.jpg

Recuemos no tempo, até ao Alabama, em 1973. Vonetta Flowers nasceu em Helena, uma pequena cidade nos arredores de Birmingham, sem grandes perspetivas de oportunidades. Um pouco como o estereótipo de uma família afro-americana a crescer num mundo sulista em que os sintomas da segregação racial continuam muito fortes.

 

O desporto era, e continua a ser, a forma encontrada para garantir uma vida diferente. Aí, Vonetta descobriu o atletismo. O sonho era chegar aos Jogos Olímpicos e, para isso, como muitas outras grandes figuras da modalidade, deu nas vistas nas provas de velocidade e no salto em comprimento.

 

Mas os fracassos sucediam-se. A determinação não foi suficiente para alcançar o sucesso e o tartã passou a ser uma longa miragem. Foi nesta altura que Vonetta fez uma pausa para repensar o futuro. Foi como se tivesse feito uma lista de prós e contras, de qualidades e defeitos, de objetivos e sonhos para descobrir que caminho devia seguir.

 

Vonetta Flowers tinha um grande talento: a velocidade. Podia não ser suficiente para estar entre a elite norte-americana nos Jogos Olímpicos de verão, mas talvez pudesse ser aplicado com sucesso noutro meio, num onde pudesse ser melhor e alcançar outro tipo de sonhos.

 

Foi assim que se mudou para o bobsleigh. O processo de aprendizagem foi natural mas Vonetta conseguiu explorar da melhor forma as suas qualidades. Não era habitual haver atletas afro-americanos na modalidade mas, lá está, Vonetta vinha de um meio em que os afro-americanos eram obrigados a quebrar barreiras para alcançar todos os sonhos. Inclusive um aparentemente tão simples como votar.

 

Salt Lake City-2002

voneta1.png

Vonetta tem uma vida de barreiras superadas. Foi, por exemplo, a primeira da família a ir para a faculdade. Foi também uma das primeiras a convencer-se pelo novo programa de recrutamento que tentava atrair atletas da velocidade para o bobsleigh.

 

Tudo começou em 2000, já depois dos apuramentos falhados para os Jogos Olímpicos de Atlanta-1996 e Sydney-2000. Vonetta fez dupla de principiante com Bonny Warner e desde logo deu nas vistas. Os Jogos Olímpicos de inverno de Salt Lake City, a menos de dois anos de distância, passaram a ser um objetivo muito presente.

 

A história de Vonetta é descrita pela própria no seu site: «Em menos de um minuto e 48 segundos, lágrimas de alegria começaram a jorrar dos olhos das pessoas do Alabama por causa de uma jovem mulher de Birmingham que se tinha atrevido a tentar um desporto invulgar e deixado uma marca inesquecível ao tornar-se a primeira atleta de origem africana a vencer uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Inverno».

 

O sucesso, alcançado na prova em que fez dupla com Jill Bakken, e terminou com a subida ao lugar mais alto do pódio, foi o culminar de uma evolução estratosférica polvilhada com inúmeras dificuldades, naturais para quem tinha entrado na modalidade apenas 18 meses antes.

 

Tudo a correr, como Vonetta sabia fazer melhor do que ninguém.

RPS