Victor Boin. A voz do primeiro juramento olímpico
Especial Jogos Olímpicos (Antuérpia-1920)
Dedicou a vida inteira ao desporto e ganhou medalhas em três edições diferentes dos Jogos. Em Antuérpia-1920, na despedida, entrou para a história como o primeiro atleta a proferir o juramento olímpico na cerimónia de abertura.
«Nós juramos. Vamos participar nos Jogos Olímpicos com um espírito de cavalheirismo, pela honra do nosso país e pela glória do desporto.» Foi assim, numa versão inicial que veio a sofrer várias alterações ao longo das últimas décadas, que o belga Victor Boin entrou na história do evento.
A ideia veio de Pierre de Coubertin, para variar, e não é coincidência que tenha surgido precisamente dois anos depois do final da Grande Guerra. O ideal olímpico tinha sofrido um dure golpe mas o desporto seria a melhor forma de encarar o futuro com outros olhos.
Como a prova foi organizada pela Bélgica, em Antuérpia, a escolha de Boin surgiu sem grande surpresa. O belga tinha um historial olímpico que falava por ele: em Londres-1908 ganhara uma medalha de prata com a equipa de pólo aquático e em Estocolmo-1912 ficara com a medalha de bronze na mesma prova.
Oito anos depois, contudo, entrou em ação na esgrima. Este ecletismo de Victor Boin não era novidade. Era a mesma pessoa que tinha salvado uma mãe e uma criança de se afogarem com apenas onze anos, o adolescente que fundou o primeiro clube de hóquei no gelo belga, o rapaz que recebeu a licença de jornalismo com 15 anos.
Antes de chegar a Antuérpia, Boin foi voluntário na Grande Guerra e aprendeu a pilotar aviões, chegando mesmo a transportar a rainha Isabel da Bélgica sobre o Canal da Mancha. Por essa altura, também já tinha sido campeão nacional de jiu-jitsu e campeão belga e europeu de patinagem de velocidade. Aliás, a propensão para as vitórias começara logo aos dois anos, quando ganhou um concurso de beleza para bebés.
Antuérpia marcou a sua terceira e derradeira medalha, novamente por equipas, novamente de bronze. Mas a sua ligação ao desporto estava longe de terminar. Prosseguiu a carreira de jornalista e cobriu, para uma rádio belga, os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, e depois da II Guerra Mundial chegou mesmo a presidir ao Comité Olímpico Belga.