Uwe Reinders. O estrangeiro decisivo no Hansa Rostock
Chegou no verão de 1990 para orientar o Hansa Rostock naquela que seria a última temporada da Oberliga enquanto escalão máximo da República Democrática da Alemanha. O conhecimento que trouxe do Ocidente e o caos em que estavam as principais potências do campeonato contribuíram de forma decisiva para um título inédito.
Robert Pischke era um homem com uma visão no verão de 1990. A estrutura da Oberliga estava a cair aos bocados e as equipas da República Federal da Alemanha estavam a conseguir recrutar os melhores talentos, como se tivessem roupas de marca com descontos na feira, e clubes como Dínamo Dresden e Dínamo Berlim estavam a ficar sem soluções.
O diretor do Hansa Rostock, equipa que nunca tinha ido além do segundo lugar, percebeu que tinha pela frente uma oportunidade perfeita. O facto de não ter um plantel tão talentoso como os adversários serviu como uma vantagem, ajudando a equipa a permanecer praticamente intacta no arranque para a temporada 1990/1991. O que poderia fazer a diferença? Um treinador. Um homem que conseguisse garantir que o todo pudesse ser incomparavelmente maior do que a soma das partes.
Uwe Reinders foi a escolha de Pischke. Contratado em junho de 1990, o homem nascido na República Federal da Alemanha tinha um currículo, pelo menos enquanto jogador, imaculado. Fizera parte da seleção que disputou a final do Mundial-1982, perdida para a Itália, e tivera já uma experiência num campeonato estrangeiro, jogando duas temporadas em França. Primeiro no Bordéus, treinado por Aimé Jacquet e jogando ao lado de estrelas como Alain Giresse e Jean Tigana, e depois no Rennes.
A carreira como treinador, contudo, era mais discreta e resumia-se ao Eintracht Braunschweig. Quando chegou a Rostock tinha 35 anos e uma vontade inesgotável de fazer história. E não apenas por ser o primeiro estrangeiro a ser contratado para orientar uma equipa na República Democrática da Alemanha.
Reinders podia ter muita coisa contra ele – ser visto como um outsider, desconhecer os meandros da Oberliga e estar a treinar uma equipa sem grandes pergaminhos – mas soube explorar na perfeição os recursos que tinha.
Fez do objetivo disputar jogo a jogo. De repente, sem que ninguém o esperasse, chegou à 12.º jornada sem derrotas. Consentindo apenas quatro empates, estava isolado no primeiro lugar do campeonato com 20 pontos. O Dínamo Dresden e HFC Chemie dividiam o segundo lugar, mas já a cinco pontos.
Os adversários adaptaram-se ao Hansa Rostock com o desenrolar do campeonato mas não foram capazes de evitar o título, que foi garantido na 23.ª de 26 jornadas, depois de uma vitória em casa sobre o maior rival: o Dínamo Dresden.
A época foi perfeita e nem a média de espetadores tímida (pouco superior a dez mil pessoas) serviu para tirar brilho ao feito. Além do campeonato, o Hansa Rostock conquistou também a Taça da RDA – a última edição da prova -, ao derrotar o Eisenhüttenstadt por 1-0. A presença nos dois primeiros lugares, em vésperas de reestruturação dos campeonatos profissionais da Alemanha unificada, garantiu também a presença na Bundesliga de 1991/1992.
Uwe Reinders foi uma aposta ganha de Robert Pischke. Chegou no único momento em que podia e fez a diferença fora de campo. Foi o derradeiro sinal que a superioridade proclamada da RDA era um mito. Na temporada seguinte, contudo, perante a concorrência dos melhores clubes da Bundesliga, o Hansa Rostock não escapou à despromoção, consumada já depois de o treinador ser despedido em março.