Um jogo de râguebi do Top-14 em França
Publicado originalmente no atlas de bolso
Já vos contámos como acabámos por arranjar uma viagem para Toulouse. Claro que, pouco depois, a dúvida era o que podíamos encaixar: sendo o Stade Toulousain uma das maiores potências históricas do râguebi francês, era uma escolha natural.
As datas para o Top-14, o campeonato francês, só foram divulgadas mais tarde, por isso o plano inicial não contemplou a ida ao estádio. Quando finalmente soubemos que o dia 6 teria um Stade-Agen, a ideia começou a impregnar-se na nossa mente, mas ainda sem certezas. Afinal, já seria outubro, o jogo era quase às nove da noite (e o estádio um bocado fora de mão) e ainda tínhamos a incógnita do preço dos bilhetes.
Só uma semana antes da partida é que decidimos avançar – para variar, comprámos bilhete para os lugares mais baratos do estádio (15 euros cada um). O plano para sábado à noite estava traçado.
Nesta coisa dos jogos ao ar livre, uma coisa que tem muita influência na experiência é o tempo. O tempo que demora, claro, mas sobretudo o tempo que está. E a previsão para Toulouse era de sol radioso e calor para sexta-feira e sábado… até à hora do jogo. Tendo já tido uma experiência desagradável com esses dias em que a temperatura desce a pique (que ninguém saiba que saímos de um jogo dos Cubs antes do final por causa do frio!), decidimos precaver-nos.
Depois de uma tarde passada de t-shirt, passámos pelo hotel para nos apetrechar com pulloveres, cachecóis e gorros. A temperatura descia e as nuvens estavam carregadas. Chegámos ao estádio e, como já esperávamos, parecíamos aliens no meio de uma multidão de calções e camisolas finas. Como habitual, demos o nosso passeio pelas imediações do estádio, e demos com um pormenor curioso: um monumento de homenagem aos jogadores do clube que morreram a combater por França.
Ainda não chovia, mas não esperámos mais do que 20 minutos: o que começou com uma chuva fraquinha não demorou a transformar-se numa chuvada de bátegas grossas, que obrigou todos os que, como nós, estavam nos lugares dos pouco ricos (fora do alcance da cobertura) a fugir para se abrigar.
O Rui, porque sabe destas coisas, teve logo a genial ideia de ver que lugares ainda estavam à venda por debaixo da cobertura, nos lugares acima de nós: a hora inicial do jogo aproximava-se e era pouco provável que fossem ocupados. Não foi o único: ao nosso lado, outro casal fazia exatamente o mesmo. Assim que vimos uma fila de lugares supostamente vazia num dos topos do estádio, soubemos o nosso destino.
Abrigados da chuva, não morremos de frio. E ainda bem, porque o jogo não seria capaz de aquecer ninguém. Como ouvimos no final “este foi daqueles jogos com resultado à antiga”: 10-0 para o Stade Toulousain. Mais do que o resultado, foi uma exibição que pecou pela falta de entusiasmo – nem o ensaio de Sebastien Bezy conseguiu trazer grande ânimo às bancadas, que recorriam à cerveja, vendida a jarro, para animar. As tentativas (dezenas?) de fazer a hola mexicana não pareciam pegar nem por nada, e um dos maiores divertimentos daquela hora e meia de jogo foi vaiar os setores do estádio onde a onda acabava. Quando finalmente a primeira deu a volta ao estádio, a multidão irrompeu em palmas - se fosse jogador, ter-me-ia perguntado que raio de passava ali, já que em campo não havia nada a acontecer.
Sem pontos na segunda parte, o jogo ficou cada vez mais luta na lama e menos râguebi. O Stade teve uma última boa oportunidade aos 72 minutos, mas a bola parecia não colar nas mãos de ninguém. Fim do jogo, é partir para a próxima. Pelo menos já podemos dizer que vimos um jogo do Top-14.
(Mal sabíamos nós que podíamos ter feito jornada dupla: o Castres recebeu o Stade Français no domingo, a hora e meia de Toulouse. Tivemos a consolação de ver os gigantes a passar por nós no aeroporto, quando esperávamos o nosso voo.)