Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

É Desporto

É Desporto

15 de Janeiro, 2020

Um herói desconhecido no primeiro episódio de body shaming olímpico

Especial Jogos Olímpicos (Paris-1900)

Rui Pedro Silva

O jovem desconhecido entre campeões

François Brandt e Roelof Klein chegaram à conclusão que o timoneiro Hermanus Brockmann era demasiado pesado e estava a impedir o objetivo de serem campeões olímpicos no remo. Por isso, no dia da final, descartaram o colega de equipa e foram recrutar uma criança nas margens do Sena. O jovem rapaz, de nome desconhecido, é o campeão olímpico mais novo da história.

Ouve-se muitas vezes que «isto só acontece mesmo em Portugal». Na maior parte das vezes é falso. Há quem diga o mesmo no Brasil, em Espanha, em Inglaterra… Por todo o mundo, há quem ache que o nível do ridículo nacionalista é superior ao dos vizinhos.

Por outro lado, há coisas que podemos dizer, com alguma propriedade, que só podiam mesmo ter acontecido nas edições inaugurais dos Jogos Olímpicos. Em Paris, em 1900, as provas de remo tiveram lugar no Sena e a competição era feroz.

Os holandeses do Minerva Amesterdam, François Brandt, Roelof Klein e Hermanus Brockmann, constituíam uma das sete equipas que sonhavam com o título na prova de duplas com timoneiro mas, apesar de terem alcançado uma vaga na final, tinham sido batidos por nove segundos. E teriam perdido quase meio minuto para o vencedor da outra meia-final.

O problema foi «facilmente» identificado: o timoneiro Hermanus Brockmann era demasiado pesado (60 quilos). Brandt e Klein perceberam que havia um elo mais fraco – que na verdade era demasiado forte – e foram encontrar uma solução nas margens do Sena.

A iniciativa dos holandeses não foi inédita. Houve mais equipas a procurarem exatamente o mesmo, mas foram eles que ficaram na história porque… ganharam. O pequeno rapaz de 33 quilos – pela fotografia estima-se que poderia ter entre sete e doze anos – acabou por ser instrumental no triunfo, uma vez que o Minerva Amsterdam cruzou a meta com apenas duas décimas de vantagem sobre uns adversários franceses.

O jovem francês nunca foi identificado, apesar de haver bibliografia duvidosa que garanta que o rapaz se chamava Marcel Depaille. Para a história, além do feito invulgar, ficou a fotografia tirada no meio de Brandt e Klein. Quanto a Brockmann, apesar de não ter disputado a corrida final, o desfecho foi positivo. O Comité Olímpico Internacional continua a reconhecê-lo como campeão.