Tina Weirather. A monarquia das medalhas no Liechtenstein
O pequeno país encrustado nas encostas entre Suíça e Áustria conquistou a décima medalha em Jogos Olímpicos de Inverno. Tina Weirather foi bronze no Super-G e juntou-se à elite familiar: a mãe Hanni Wenzel conquistou quatro e o tio Andreas Wenzel ganhou duas.
Pequenos mas não tanto…
O Vaticano tem 0,44 quilómetros quadrados e os Jogos Olímpicos de Inverno são uma missa que não lhe interessa. O Mónaco tem 1,95 quilómetros quadrados e continua sem qualquer tipo de medalha em eventos olímpicos, apesar de só não ter participado em Los Angeles-1932, Melbourne-1956 e Moscovo-1980. E São Marino tem 61 quilómetros quadrados e… zero medalhas.
Estes são os três estados mais pequenos da Europa e a história olímpica, existindo, tem muito pouco para contar. À porta deste peculiar top-3 está o Liechtenstein, com 160 quilómetros quadrados. Se nos Jogos Olímpicos de Verão as participações acabam por ter sempre muito pouco para contar, nos de Inverno a aventura é diferente.
Tina Weirather recolocou o país no mapa com a medalha de bronze no Super-G do esqui alpino em PyeongChang. A atleta liechtensteinense (é a primeira vez que leem este gentílico? Foi a primeira vez que escrevemos) alcançou o primeiro pódio do país desde 1988 e acentuou ainda mais a ideia de uma família dominadora no pequeno país afundado no meio das montanhas entre a Suíça e a Áustria.
Hans-Adam II pode ser o príncipe regente de um país que não atinge sequer os 40 mil habitantes (não muito longe das assistências médias dos jogos em casa de Sporting e FC Porto) mas no desporto olímpico a monarquia é outra. E começa nos irmãos Wenzel.
Hanni, a dominadora
Hanni Wenzel é, muito possivelmente, a melhor atleta na história do Liechtenstein. A 11 de fevereiro de 1976, em Innsbrück, a menos de 200 quilómetros de Vaduz, foi terceira na prova de slalom e conquistou a primeira medalha para o seu país. Tinha apenas 19 anos.
Willi Frommelt imitou-a uns dias depois, na prova de slalom masculino, mas seria Hanni a partir para mais uma demonstração espetacular de talento em Lake Placid, quatro anos depois. Aí, o bronze já não satisfazia. E fez mais, muito mais. Foi campeã olímpica no slalom e no slalom gigante e venceu mais uma medalha de prata, no downhill.
O bónus foi, ainda assim, outro. É que o seu irmão Andreas, dois anos mais novo, também venceu uma medalha de prata no slalom gigante, abrindo caminho para novo pódio em Sarajevo, quatro anos mais tarde, na mesma prova.
Wenzel era sinónimo de qualidade desportiva. Os irmãos somaram seis medalhas em Jogos Olímpicos de Inverno e afirmaram-se como uma dinastia de poder no esqui alpino e no desporto olímpico. Mesmo com as medalhas de Ursula Konzett em 1984 no slalom masculino e de Paul Frommelt, irmão mais novo de Willi, em 1988 no slalom masculino, o domínio continuava a ter um apelido, com seis em nove pódios.
Tal mãe, tal filha
O Liechtenstein desapareceu das contas das medalhas em 1988 e só voltou em 2018, graças a Tina Weirather, uma atleta de 28 anos que à primeira vista pode não ter qualquer ligação com os medalhados anteriores.
Mas a verdade é que o esqui alpino está-lhe sangue. O pai, Harti Weirather, foi campeão mundial de downhill em 1982 e a mãe… Bom, a mãe chama-se Wenzel, Hanni Wenzel. Ao crescer neste mundo, e apesar de nunca ter visto o seu país vencer uma medalha olímpica, dificilmente conseguiria escapar ao destino.
Foi assim que, na prova de Super-G em PyeongChang, escreveu mais um capítulo da supremacia familiar no Liechtenstein. A medalha pode ter sido «apenas» de bronze, mas é o suficiente para garantir uma estatística impressionante: em dez pódios, sete foram conquistados por filha, mãe e tio.
Na despedida da Coreia do Sul, no downhill, Tina Weirather esteve muito perto de conquistar mais uma medalha de bronze, mas acabou por ver uma adversária norueguesa bater o seu tempo numa altura em que a margem para haver alterações nos primeiros lugares era cada vez menor.
Aí, as contas seriam ainda mais impressionantes. Só os três familiares poderiam dizer, no Liechtenstein, que tinham conseguido mais do que uma medalha em Jogos Olímpicos. O sangue pode não ser real, mas é realmente propício para o sucesso desportivo. Quem sabe onde irá parar esta dinastia…