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É Desporto

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14 de Fevereiro, 2019

Tetyukhin. A família real do voleibol russo passou por Lisboa

Rui Pedro Silva

Sergey Tetyukhin passou o talento do voleibol para os filhos

Chama-se Pavel e chegou à Luz com o número oito nas costas. O zona 4 russo do Belogorie Belgorod, que eliminou o Benfica no set de ouro da eliminatória dos quartos-de-final da CEV Challenge Cup, passou praticamente ao lado do encontro.

 

Só por uma vez esteve em campo, entrando para servir, já no decisivo set. Fez um serviço, a equipa ganhou o ponto, com o jovem de 18 anos a salvar uma bola após o ataque encarnado, e repetiu o gesto, desta vez sem sucesso coletivo. Foi substituído e, minutos mais tarde, festejou o apuramento para as meias-finais.

 

A ausência de tempo de jogo não é sinónimo de falta de qualidade. Pelo contrário. Pavel está na órbita do estrelato no voleibol russo há pelo menos dois anos e é considerado uma futura estrela. Internacional nos escalões jovens pela Rússia, é um de três irmãos que carregam o peso do nome Tetyukhin.

 

São todos filhos de Sergey, agora com 43 anos, e visto como um dos melhores jogadores na história do voleibol. Nascido a 23 de setembro de 1975, na república do Uzbequistão, não demorou muito até começar a dar nas vistas, já como internacional russo.

 

O início da carreira profissional, em 1992, começou precisamente em Belgorod, e terminou na época passada, no clube agora representado pelo filho. A passagem de testemunho é tão real que Pavel até enverga agora o número do pai: o oito.

 

Seguir as pisadas de Sergey será uma utopia. Para Pavel e para a esmagadora maioria dos jogadores de voleibol. Entre 1996 e 2016, o oposto fez 450 jogos pela seleção e construiu um palmarés praticamente inigualável.

Esteve em todos os Jogos Olímpicos com a Rússia entre 1996 e 2016

Venceu duas vezes a Taça do Mundo, uma vez a Liga Mundial e conquistou um total de 19 medalhas entre Mundiais, Taças do Mundo, Ligas Mundiais, Europeus e Ligas Europeias. Mas foi nos Jogos Olímpicos que fez verdadeiramente a diferença.

 

Faz parte de uma elite masculina, juntamente com Samuele Papi e Sérgio Santos, que conquistou quatro medalhas olímpicas durante a carreira. Mas se o italiano tem duas pratas e dois bronzes e o brasileiro dois ouros e duas pratas, o russo é o único que pode dizer que saboreou os três lugares do pódio: foi vice-campeão em Sydney-2000, terceiro classificado em Atenas-2004 e Pequim-2008 e saiu de Londres-2012 com o tão ansiado título olímpico.

 

Em 2016, no Rio de Janeiro, ficou pertíssimo de alcançar a glória isolada mas a Rússia perdeu para os Estados Unidos no jogo de atribuição do terceiro lugar, depois de desperdiçar uma vantagem de dois sets. Tinha 40 anos e disse adeus a às experiências olímpicas que tinham começado precisamente nos Estados Unidos, em Atlanta-1996, também com um amargo quarto lugar (1-3 vs. Jugoslávia).

 

O título olímpico de 2012 pôs fim a uma carreira de sofrimento que chegou a parecer hipotecada depois de um acidente de viação em 2000, quando jogava em Itália. Partiu a pélvis, foi obrigado a uma longa recuperação e o clube, o Parma, perdeu a confiança na sua qualidade.

 

Tetyukhin provou com o passar do tempo que estavam errados. «Sabia que podia vencer o ouro», disse em 2012. «De outra forma não teria tentado estar aqui, já devia ter abandonado a seleção. Mas agora tenho esta medalha. Agora posso abandonar», confessou no calor da glória, apenas para mais tarde garantir que também estaria no Rio de Janeiro.

 

O verdadeiro adeus só chegou no ano passado, aos 42 anos. «Esta é a minha última época», disse o então jogador do Belogorie Belgorod. Porta-estandarte da Rússia em 2016, foi uma referência incontornável do voleibol russo.

 

«Todos os atletas têm de terminar a carreira, independentemente do valor que tenham. Chega uma altura em que temos de dizer basta. O momento chegou para mim e estou bem com isso», admitiu.

 

O nome Tetyukhin não chegou a arrefecer, nem na equipa de Belgorod nem na seleção. Além de Pavel, também Ivan é um jogador que dá nas vistas e, agora com 21 anos, jogou ao lado do pai na época de despedida.