Teddy Riner. Ele só tem medo da mãe
Queria mostrar aos pais que era mais forte do que o irmão mas perdeu em segundos. A partir daí, aprendeu a nunca mais subvalorizar um adversário. Resultou: o gigante judoca francês entra no Rio de Janeiro favorito e sem perder um combate há praticamente seis anos.
A maravilha do desporto individual
O desporto sempre foi uma paixão e o talento para várias modalidades foi detetado desde cedo. Quando era novo, praticou futebol, ténis e basquetebol mas decidiu concentrar-se no judo.
«No futebol há uma equipa. Se a equipa é má, eu perco. E eu, eu não gosto de perder. Preferi o judo porque é um desporto individual, só lá estou eu», assumiu.
O francês Teddy Riner, com uma sugestiva alcunha de Teddy Bear, nasceu em Guadalupe quando os pais lá estavam de férias e sempre teve uma tendência para querer mostrar que era melhor.
Tudo começou para impressionar os pais, num combate contra o irmão mais velho. Apesar de ser mais novo, Teddy era maior e julgava-se superior. Enganou-se. «Ao vencê-lo, teria a oportunidade de mostrar aos nossos pais quem era o mais forte. Mas fui muito arrogante, estava cheio de entusiasmo infantil e ele arrumou-me num instante.»
A derrota, com um sentimento de humilhação perante os pais, foi a lição mais importante que levou para o judo: «A partir daí fiz a promessa de nunca mais subvalorizar um adversário, por mais modesto que fosse.»
Domínio absoluto
O judoca francês tem 2,04 metros, pesa mais de 130 quilos e não dá hipótese à concorrência. Depois de se tornar o mais jovem de sempre a conquistar o título mundial na categoria de mais de 100 quilos, com apenas 18 anos e cinco meses, no Rio de Janeiro em 2009, Riner aproveitou para elevar cada vez mais a fasquia.
No regresso ao Brasil, onde também foi campeão mundial em 2013, o judoca francês está numa série impressionante: tem oito títulos mundiais, o título olímpico em 2012 e praticamente seis anos sem qualquer derrota.
O último desaire aconteceu a 13 de setembro de 2010 e desde então ganhou mais de 100 combates. E mesmo esse que perdeu, frente ao japonês Daiki Kamikawa, foi polémico. A faceta de não gostar de perder veio à tona e Riner recusou-se a cumprimentar o adversário, em sinal de protesto com a decisão do árbitro.
A superioridade na categoria é tão grande que em 2012, na final dos Jogos Olímpicos de Londres, o adversário russo, Alexander Mikhaylin, foi assobiado pelo público por falta de ataques.
Teddy Riner não se considera invencível. «Quando o for, deixo de combater. Mas por agora não o sinto, não sinto que possa parar. Tenho de continuar, tenho de deixar a minha marca na história», afirmou.
«Não é que não haja ninguém que me possa vencer», acrescenta o francês. «Sou eu que não os deixo ocupar o meu lugar. Eles estão lá, eu consigo vê-los.»
Rio talismã
A cidade brasileira é um talismã para Riner. «Sempre que venho aqui, sou campeão [2009 e 2013]. Tenho muita sorte, estou feliz. Adoro o clima da cidade, o povo brasileiro. Gosto muito do Brasil», confessou pouco depois de aterrar para os Jogos Olímpicos.
Riner só entra em ação esta sexta-feira, uma semana depois de ter vivido um momento inesquecível na sua vida: «Fiquei muito emocionado quando soube que seria o porta-estandarte. É um grande orgulho mas também uma grande responsabilidade.»
Como campeão olímpico, a postura em prova será diferente. «Em 2012, tinha a obrigação de vencer. Lutei sem correr nenhum tipo de risco, só para obter as vitórias. Agora vou poder relaxar um pouco mais, lutar de forma mais solta, pois os meus adversários é que têm de estar preocupados. Eu sou o atual campeão.»
Teddy Riner vai ser o alvo a abater de todos os adversários mas o judoca, que quer ser lembrado como Pelé é no futebol e Michael Jordan é no basquetebol, não tem medo de nenhum. Aliás, só há uma pessoa capaz de provocar isso: a mãe.
«É sempre assim, não vai mudar. É ela que me mete mais medo.» Afinal, Teddy Bear pode ser um gigante no judo mas em casa será sempre um menino da mamã.
RPS