Taylor McQuillin. A visão está para além dos olhos
O México foi uma das primeiras seleções a entrar em competição nos Jogos Olímpicos de Tóquio. No softball, contra o Canadá, a equipa mexicana não teve grande sorte e perdeu o jogo de estreia. Entre as atletas utilizadas, uma saltou à vista: a lançadora Taylor McQuillin. Não pelo nome pouco mexicano mas sim pela história de vida, por ser cega do olho esquerdo.
Nem sempre é simples lidar com as deficiências dos outros. É difícil fugir às comparações, ao raciocínio de como seria se fôssemos nós que não tivéssemos um braço, uma perna, que não conseguíssemos falar, ouvir ou ver. Mas Taylor McQuillin tem demonstrado desde sempre que essa é uma falsa questão.
A vida de Taylor McQuillin nunca foi diferente do que é agora. Para a atleta que nasceu em Long Beach, na Califórnia, nunca houve uma sensação de perda. Não sabe o que é ver com os dois olhos, não sabe o quão diferente poderia ser a sua vida se tivesse uma visão perfeita. Pode comparar, é claro, mas da mesma forma que é difícil colocarmo-nos no corpo dela, pode ser ainda mais difícil o contrário.
É como se agora, de repente, se descobrisse que há uma enorme percentagem da população que consegue ver através de paredes. Sim, há quem consiga ver melhor, ou ver diferente, mas será que nos sentiríamos assim tão limitados tendo em conta que nunca fomos capazes de ver através delas?
O exemplo pode ser forçado mas não foge muito à ideia apresentada por Taylor McQuillin. «Nunca tive uma visão a 100% com os dois olhos, por isso isto para mim é normal», garante.
O problema de Taylor McQuillin é uma consequência de uma doença chamada sínfrome de Duane. Além de ser legalmente cega do olho esquerdo, também tem a audição afetada no ouvido esquerdo. Durante os primeiros anos de vida foi submetida a várias operações mas a deficiência nunca foi corrigida.
Sem solução possível, os médicos sugeriram a aposta na adaptação. Aí, o desporto surgiu como fundamental para que Taylor conseguisse desenvolver uma melhor perceção de espaço, movimento e equilíbrio. Jogou futebol, nadou, fez ginástica e dançou, mas o amor à primeira vista, e que ainda dura, foi o softball.
Os pais, os treinadores e as colegas de equipa ao longo dos anos podem ter sentido alguma dificuldade de adaptação às ideias de Taylor McQuillin, sobretudo quando decidiu ser lançadora e estar no ponto de mira de bolas que podem ser devolvidas a alta velocidade, mas esse nunca foi um problema sério que tenha persistido.
As barreiras que poderiam existir foram derrubadas praticamente desde o primeiro momento e hoje Taylor McQuillin é parte integrante da seleção mexicana. Depois de ter jogado na Universidade do Arizona e de ser selecionada no draft pelas Cleveland Comets, surgiu a oportunidade de representar o México devido a heranças familiares.
«Sonho com os Jogos Olímpicos desde criança. O simples facto de poder ter uma oportunidade, mesmo que não seja pelos Estados Unidos, de representar o outro lado da minha família e de estar no palco olímpico é incrível para mim», disse em 2019.
Hoje, dois anos depois, Taylor McQuillin é uma mulher feliz. E demonstrou, uma vez mais, que a visão está muito para além do que nos mostram os olhos.