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É Desporto

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26 de Abril, 2019

Sue López. De jogadora a ativista respeitada

Rui Pedro Silva

Sue López

Nasceu um dia antes de o Japão assinar a rendição na II Guerra Mundial mas nem por isso pode dizer que cresceu num ambiente sem conflito. Em 1945, as inglesas estavam a meio da proibição que a Federação Inglesa de Futebol tinha imposto ao futebol feminino em 1921 e que viria a durar cinco décadas.

 

Como tantas outras, Sue López fez o possível para contornar este obstáculo e tornou-se, desde o início, uma das vozes mais importantes do futebol feminino em Inglaterra. Hoje, é reconhecida pelo seu futebol dentro das quatro linhas, mas também pelo seu impacto fora delas, seja através do período como treinadora, dirigente, autora ou, simplesmente, ativista do futebol feminino.

 

E tudo começou em 1966, por causa do Mundial de futebol que a Inglaterra organizou. Durante a prova, viu uma notícia sobre um jogo de futebol feminino que ia acontecer num parque em Southampton. A novidade deixou-a em êxtase e não descansou enquanto não recebeu um convite para participar, já depois de ter enviado uma carta para o jornal local a perguntar por mais detalhes.

 

«Quando lá cheguei, vi que havia um campo com as dimensões oficiais, linhas, equipamentos, balizas e muita gente preparada para assistir. Já nem me lembro do que fiz para arranjar umas chuteiras mas, à hora do jogo, estava preparada», recordou recentemente.

 

Sem grande poder de escolha, foi-lhe dito para jogar no lado direito da defesa. «Eu queria era marcar golos, por isso sempre que tinha a bola, subiu pelo flanco e rematava. Acho que ainda marquei alguns. No final, perguntaram-me se queria começar a jogar todas as semanas.»

 

A iniciativa, aliada ao impacto do Mundial-1966, teve um sucesso brutal. A notícia espalhou-se e, domingo após domingo, havia cada vez mais mulheres interessadas em jogar. Havendo vontade, havia sempre equipas dispostas a entrar em campo.

 

O problema é que a proibição continuou em vigor até 1971. «Não podíamos ter árbitros registados, não tínhamos um campo oficial, não havia ninguém para te treinar», queixa-se, lembrando a vez em que foram desconvidadas de fazer uma demonstração antes de um jogo do Southampton ou de quando um treinador foi obrigado a deixar a equipa apenas porque estava inscrito na Federação Inglesa e o organismo não queria misturas.

 

Sementes do domínio

 

O sucesso do futebol feminino em Southampton fez com que não fosse surpresa que, quando a FA finalmente reverteu a proibição, a hegemonia das Taças de Inglaterra passasse pela equipa de Sue López.

 

Entre 1971 e 1983, o Southampton conquistou oito títulos e esteve presente em onze finais consecutivas. «Tenho orgulho em ser uma das pioneiras que ajudou verdadeiramente o futebol feminino a recomeçar do zero em 1966 depois de todas as equipas terem desaparecido com a proibição», afirmou a jogadora, que fez toda a carreira no Southampton, exceto uma temporada em que atravessou a Europa para atuar na Roma.

 

Sue López foi internacional por Inglaterra (22 jogos) e, quando acabou a carreira, atravessou para o lado lá, atuando como treinadora, dirigente e até autora de um livro sobre a evolução do futebol feminino, e lamenta que o Southampton tenha acabado com a equipa feminina em 2003, momento em que se despediu definitivamente dessa carreira.

 

Hoje, continua a ser uma voz importante e respeitada no futebol feminino. Sabe que a modalidade está muito melhor mas tem medo que venha a estagnar se a Inglaterra não alcançar um grande troféu em breve. «Tal e qual como o futebol masculino, que não ganha nada desde 1966. Sinto que precisamos de ganhar algo para continuar a formar grandes talentos, de começar a moldar a qualidade das jovens desde uma tenra idade, com treinadores conceituados.».