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É Desporto

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09 de Janeiro, 2018

Steven Bradbury. Bastou estar no sítio certo à hora certa

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Australiano foi campeão olímpico dos 1000 metros em patinagem de velocidade em 2002 numa prova em que os outros quatro finalistas caíram na última curva. «Era o mais velho e já não tinha muita força. Senti que valia a pena ficar longe da disputa e esperar que pudesse haver alguma confusão.»  

 

O triunfo do pragmatismo

 

Steven Bradbury tinha 28 anos quando competiu nos Jogos Olímpicos de Inverno de Salt Lake City, em 2002. Campeão do mundo na estafeta dos 5000 metros na patinagem de velocidade em 1991, o australiano entrou no Utah sem grandes expectativas.

 

Com três participações olímpicas anteriores, só por uma vez tinha conquistado uma medalha: bronze na estafeta dos 5000 metros em Lillehammer na Noruega. Na prova de despedida, dificilmente poderia fazer a diferença, especialmente por ter tido uns meses de preparação complicados e sem grandes resultados.

 

A experiência – e muita sorte – acabou por fazer a diferença na prova dos 1000 metros. Primeiro, logo nos quartos-de-final, aproveitando a desqualificação do campeão mundial, o canadiano Marc Gagnon. Depois, nas meias-finais, houve uma queda que envolveu três favoritos, permitindo a Bradbury cruzar a meta no primeiro lugar e assegurar uma posição entre os cinco finalistas.

 

A estratégia estava decidida. O atleta era o mais velho entre os cinco finalistas e dificilmente poderia fazer a diferença numa corrida de 1000 metros. Mas a sorte poderia estar com ele. Afinal, basta um deslize de dois adversários para subir a um lugar de medalhas.

 

«Adotei uma postura tática, muito minimalista: afastar-me da confusão e, se houver alguma coisa, estar no sítio certo para capitalizar. Era o mais velho e já não tinha muita força. Senti que valia a pena ficar longe da disputa e esperar que pudesse haver alguma confusão», contou anos mais tarde.

 

Foi precisamente isso que aconteceu. Bradbury esteve na cauda da corrida durante toda a prova e, nas últimas duas voltas, perdeu mesmo o contacto com os quatro da frente. De certa forma, foi o melhor que lhe podia ter acontecido.

 

«Devia estar a uns 15/20 metros da frente quando o caos aconteceu e toda a gente caiu», recordou. A realidade tinha superado o melhor otimismo. A eventual queda de dois adversários transformou-se numa caótica última curva, em que o chinês Li Jiajun levou demasiado longe o esforço e arrastou consigo três adversários.

 

E das cinzas surgiu Bradbury

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Li Jiajun, caído, acabou por ser desqualificado. E os restantes, Apolo Anton Ohno, Mathieu Turcotte e Hyun-soo Ahn, estavam ainda incrédulos com a queda. Felizmente para Bradbury, a distância que tinha deixado para os da frente não fora suficientemente grande para não cruzar a meta na primeira posição.

 

Assim, com um segundo de vantagem sobre Anton Ohno, sagrou-se campeão olímpica numa das provas com o desfecho mais imprevisível na história do desporto. Os próprios festejos foram de alguém que não conseguia esconder alguma vergonha de ter feito tão pouco, mas de forma tão pragmática, para ganhar.

 

«A cerimónia das medalhas é algo que vou lembrar para sempre. Estava a ter problemas com a forma como ganhei a corrida, gostaria de ter sido o vencedor por ter sido o mais forte. A cerimónia expulsou todos esses sentimentos assim que a bandeira da Austrália subiu e começou a soar o hino», disse.

RPS