Solskjaer. Um homem talhado para ser substituto
O cenário foi tão comum na história do clube que nem chegou a causar estranheza. A 19 de dezembro de 2018, poucos dias depois de o Manchester United ter sofrido a segunda derrota consecutiva numa série de cinco jogos com apenas um triunfo, os red devils anunciaram que Ole Gunnar Solskjaer ia ser o substituto de José Mourinho.
Menos de um mês depois, a equipa está de cara lavada, os jogadores parecem outros e os resultados acompanham: cinco triunfos consecutivos – a melhor série da época era de apenas três – e uma valiosa vitória no terreno do Tottenham (1-0) a relançar as hipóteses na disputa de um lugar na Liga dos Campeões.
O treinador norueguês está a limitar-se a fazer aquilo que mostrou saber fazer melhor enquanto jogador do clube, entre 1996 e 2007: ser um substituto de luxo. Sim, a forma como saiu do banco para resolver a final da Liga dos Campeões em Barcelona, nos descontos (2-1 vs. Manchester United em 1999) será sempre o pináculo de uma carreira com um denominador comum: sair do banco para fazer a diferença.
Os números não mentem. Ole Gunnar Solskjaer era um goleador nato, jogasse a partir do banco ou desde o início do jogo. Foi assim nos escalões de formação do Clausenhagen e, mais tarde, na temporada em que ajudou a equipa ser campeã do terceiro escalão, num total de 115 golos em 109 jogos; e foi assim no Molde, onde marcou 41 golos em 54 jogos e garantiu o visto de entrada na Premier League para representar o gigante Manchester United.
Em Old Trafford, com Alex Ferguson, não houve diferença e os 18 golos no campeonato na época de estreia provaram que a contratação tinha sido acertada. Até 2007, vários avançados foram saindo e chegando e o norueguês com cara de bebé manteve-se igual a si próprio: jogasse quanto tempo jogasse, a probabilidade de marcar um golo era elevada.
O balanço final é esclarecedor: Solskjaer despediu-se do Manchester United com 126 golos marcados: 29 deles foram como suplente. Feitas as contas, são 23% dos golos marcados ao serviço dos red devils.
Futebol foi uma paixão que não largou
O fim da carreira enquanto futebolista, precipitado por lesões recorrentes, não impediu Solskjaer de continuar ligado à modalidade. Já tinha provado que não gostava de andar a ser projetado de um lado para o outro. Afinal, foi por essa mesma razão que, enquanto criança, decidiu desistir da luta greco-romana, a modalidade que o pai praticava.
Continuar no futebol – e no Manchester United – era algo que tinha em mente mesmo antes de terminar a carreira. Por isso, no último contrato assinado, em 2006, garantiu que haveria uma porta de entrada aberta para a possibilidade de ser treinador.
Se por um lado estava obrigado a certificar-se enquanto técnico, por outro tinha o diploma mais do que válido para assumir o cargo de treinador dos avançados do Manchester United na primeira temporada após pendurar as chuteiras. Daí para a equipa de reservas na época seguinte foi um pequeno passo. A carreira de treinador estava a ser consolidada, capítulo após capítulo, e Solskjaer sentia-se preparado para um desafio mais sério.
O Molde foi um regresso às origens cheio de sucesso. Depois de o alemão Uwe Rösler ter salvado a equipa de descer de divisão no final de 2010, Ole Gunnar Solskjaer pegou de estaca e garantiu o primeiro título nacional da história da equipa, logo no primeiro ano. Não satisfeito, repetiu a façanha em 2012 e tornou-se, ainda mais, uma figura emblemática do clube.
O técnico conquistou ainda uma Taça da Noruega (2013) e manteve-se no Molde até ao início de 2014, altura em que aceitou um novo desafio e assumiu o comando do Cardiff City. Mais uma vez, ia ser o substituto de alguém: Malky Mackay. O norueguês pode ter entrado com o pé direito, a ganhar ao Newcastle na Taça de Inglaterra, mas o balanço em Gales foi negativo: a equipa não evitou a descida de divisão e o arranque no Championship foi mau o suficiente para o técnico abandonar o clube.
O antigo clube norueguês voltou a entrar na moldura em outubro de 2015 e foi lá que o Manchester United o foi buscar agora, três anos depois, para ocupar o posto de treinador interino. Um substituto destinado a ser substituído.
O contrato com o Molde continua válido – o regresso está previsto para maio de 2019 – mas o sucesso como substituto em Old Trafford pode provocar uma mudança de planos, mesmo que Solskjaer não esteja destinado a continuar no Manchester United.
Para já, a história está feita. Pode ser apenas um treinador interino, pode estar a prazo, pode ser um substituto que, faça o que fizer, já sabe que não será titular no próximo desafio, mas foi o primeiro da história do Manchester United a vencer os seus primeiros seis jogos ao comando da equipa.