Shah Hussain Shah. Ir para o judo para não levar na boca no boxe
Há países asiáticos que têm o judo como o grande denominador comum. Basta olhar para o medalheiro histórico nos Jogos Olímpicos e perceber a quantidade de pódios que Japão (84), Coreia do Sul (43), China (22) e Mongólia (11) têm.
Mesmo mais em baixo na lista, encontramos outras países como Coreia do Norte, Uzbequistão, Quirguistão ou Tajiquistão. No meio de tantos «ão», há um que não aparece – o Paquistão. O judo está longe de ser uma das modalidades-rainha do país e as dez medalhas já alcançadas surgem em apenas três modalidades: hóquei em campo (8), luta (1) e boxe (1).
Esta história pode ser de um judoca mas começa precisamente na medalha de bronze alcançada no boxe em 1988, a última individual alcançada por um paquistanês. Falamos de Hussain Shah, o pai de Shah Hussain Shah.
Como é que o filho foi parar ao judo com uma lenda olímpica em casa noutra modalidade? Com a influência da mãe. «A minha mãe não queria que me tornasse pugilista depois de ver o meu pai a ser esmurrado 500 vezes por dia sempre que ia treinar», contou Shah Hussain.
Shah Hussain recorda que cresceu a ouvir toda a gente a falar como o pai era uma autêntica lenda, não esconde o orgulho de ser filho do último medalhista individual na história olímpica do Paquistão e até confessa que se sentiu motivado e encorajado a tornar-se desportista. Desde que não fosse, tal como a mãe exigia, no boxe.
A opção recaiu no judo e não poderia ter sido mais natural. A família vivia no Japão e Shah Hussain começou a praticar com quatro anos, em 1997. «O judo é o desporto nacional e concentra-se na autodefesa. Por isso não é apenas um desporto mas também um aspeto da vida quotidiana», referiu.
Talvez seja por isso que tenha sido tão fácil convencer a mãe. Depois de ver o marido a levar pancada durante anos a fio, agora teria o filho a aprender a defender-se, mesmo que fosse numa modalidade de contacto.
O contexto de Hussain promoveu um facto histórico. Se no Paquistão o judo está longe de ser uma modalidade muito praticada, o seu crescimento num cenário muito mais propício contribuiu para que se tornasse o primeiro judoca paquistanês no palco olímpico. Aconteceu em 2016, no Rio de Janeiro, na categoria de -100 quilos, na qual não foi além de um 17.º lugar.
Em Tóquio, cinco anos depois, voltará a ser muito difícil chegar longe. O currículo de Shah Hussain é uma coleção de derrotas antes de atingir o top-16, seja em Jogos Olímpicos ou em Mundiais. Para a história ficará a oportunidade de combater na casa que o acolheu com dois anos e permitiu que encontrasse um desporto que o deixasse feliz, dentro da flexibilidade permitida pela mãe.