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É Desporto

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07 de Setembro, 2016

Sean Highdale. De Anfield aos Paralímpicos com um acidente pelo meio

Rui Pedro Silva

Sean Highdale

Médio tinha um contrato profissional com o Liverpool à espera mas carreira terminou por culpa de um acidente de viação. «Dois dos meus amigos morreram, eu tive sorte. Fiz uma rotura em três dos quatro principais ligamentos do meu joelho direito, parti o meu tornozelo e pescoço e tive de tirar um rim. Estive cinco dias em coma», recorda. Amanhã entra em ação nos Paralímpicos.

 

Ele só queria ir ao cinema

 

«Lembro-me de me ter encontrado com os meus amigos no domingo à noite para irmos ao cinema. Fomos até à estação mas não estavam a passar comboios. Acabou por ser um colega nosso a vir-nos buscar, ele tinha acabado de passar no exame de condução. Depois disso não me lembro de mais nada», diz, falando de abril de 2008.

 

Depois disso, o carro em que os quatro amigos se deslocavam embateu num Volkswagen Beetle. «Dois dos meus amigos morreram, eu tive sorte. Fiz uma rotura em três dos quatro principais ligamentos do meu joelho direito, parti o meu tornozelo e pescoço e tive de tirar um rim. Estive cinco dias em coma», lembra.

 

Sean Highdale não era apenas mais um adolescente de 17 anos. No Liverpool desde os nove anos, o médio era o capitão dos sub-18 e tinha feito vários jogos na seleção inglesa de sub-16, ao lado de nomes como Jack Wilshere e Jack Rodwell.

 

Em Anfield, o seu talento era reconhecido e já lhe tinham dito que na época seguinte teria direito a um contrato profissional. Naquela altura, Highdale sentia que o céu era o limite: «Estava muito confiante que podia ir tão longe quanto quisesse. Estávamos em abril de 2008 e tinha acabado de jogar muito bem contra o Derby. Vinte e quatro horas depois, tive o acidente.»

 

Longa recuperação

Quando jogava no Liverpool

Highdale começou um longo processo de recuperação. O Liverpool apoiou-o como pôde: levou-o para um hospital privado e contactou um especialista em joelhos para garantir que tinha todos os cuidados necessários. Até Jamie Carragher, um dos ídolos do adolescente, o visitou, para garantir que mantinha o otimismo. Mas não foi fácil.

 

«Estive dois anos até poder voltar a correr. Costumava ir ver os treinos dos meus colegas e saía de lá com o coração despedaçado. Olhava para eles e pensava se algum dia eu poderia voltar a ser um daqueles», afirma.

 

O espírito competitivo ajudou da melhor maneira, fazendo com que ultrapassasse todas as barreiras que lhe colocavam à frente: «Houve muita corrida dentro de água até passar para uma passadeira. Depois comecei a andar de bicicleta e, antes que desse por isso, já estava a treinar novamente com os meus colegas.»

 

Mas já não era o mesmo e disseram-lhe que não poderia voltar a jogar. «Tinham razão, ainda hoje as minhas articulações incham e doem. O meu sonho tinha acabado. Fui ao MK Downs e ao Huddersfield a captações mas era difícil acompanhar o ritmo, por isso tentei umas divisões mais abaixo. Mais tarde ou mais cedo, tive de me conformar que o futebol era passado para mim.»

 

O reconhecimento de que Highdale tinha uma carreira promissora fez com que uma seguradora, depois de ouvir 30 testemunhos, com destaque para os de Gerrard e Carragher, concordasse em pagar, em 2013, uma indemnização de «sete dígitos».

 

Estreia nos Paralímpicos

 

Sean Highdale está habilitado a jogar nos Paralímpicos devido à lesão cerebral que sofreu no acidente. Foi por esse pormenor que foi contactado por um dirigente da seleção de futebolistas com paralisia cerebral.

 

O contacto surpreendeu-o, nunca tinha ouvido falar numa equipa dessas, mas não recusou a oportunidade de fazer um treino. «Estava muito inseguro no início mas aproveitei cada minuto. Pensei que os meus tempos de boas condições e relvados tinham acabado mas senti-me muito bem ali, a reviver antigas memórias», diz.

 

No Rio de Janeiro, Sean Highdale será uma das figuras de uma equipa que também tem Jack Rutter, antigo elemento da formação do Birmingham que foi atacado à porta de uma discoteca, e Michael Barker, que era da formação do Everton e foi atropelado por um autocarro.

 

«Temos uma equipa muito boa e não vejo razão para não ganharmos uma medalha», assume, confiante. Nas bancadas, Sean terá a visita dos pais: «Vão ver-me jogar. Normalmente ficam aborrecidos porque os jogos fazem com que se lembrem de tudo o que se passou, mas também estão muito orgulhosos.»

 

RPS