Sani Brown. O benjamim japonês que quer estar no adeus de Bolt
Tem apenas 18 anos e vai ser o atleta mais novo a participar na prova dos 100 metros em Londres. Depois de bater o recorde mundial júnior de Usain Bolt nos 200 metros, espera poder estar na despedida do jamaicano no hectómetro.
Um cocktail genético?
«Este deve ser mesmo japonês, deve» é uma reação ignorante mas possivelmente natural quando se vê Abdul Sani Brown a representar o país nipónico nas provas de velocidade. A verdade é que nasceu em março de 1999, em Fukuoka, filho de uma japonesa que praticou atletismo no secundário e de um ganês.
A genética ganesa pode ser vista como a culpada do talento de Brown mas a história demonstra um cenário diferente. O Gana não tem uma grande tradição na velocidade: o recorde nacional dos 100 metros está abaixo dos dez segundos (Leonard Myles-Mills fez a distância em 9,98 em 1999) e o dos 200 metros só é 17 centésimos mais rápido do que a melhor marca de Sani Brown. Em Jogos Olímpicos, por exemplo, o Gana só tem medalhas no pugilismo (três) e no futebol masculino (uma).
O treinador Takahiko Yamamura segue Sani Brown desde o início da adolescência e garante que a ideia de a genética ser responsável pela qualidade do velocista está errada: «As pessoas têm a tentação de dizer que o desempenho dele é consequência da origem africana mas não é o caso. Ele tornou-se um atleta muito forte devido à sede de aprendizagem constante».
Por outro lado, há vantagens físicas claras em relação a outros atletas japoneses: a pélvis é ligeiramente diferente e a estrutura óssea e muscular assemelha-se mais aos velocistas do Ocidente. De facto, estima-se que a sua passada seja, em média, dez centímetros mais larga do que a de outros corredores do Japão. Para correr 100 metros, por exemplo, Sani Brown pode precisar de menos três ou quatro passadas do que os rivais.
Talento precoce
Sani Brown chega aos Mundiais de Atletismo de Londres com 18 anos e confirma que é um talento precoce em grandes provas. Há dois, em Pequim, foi o mais jovem da história a participar nos 200 metros, com apenas 16 anos e 172 dias. Na altura, conseguiu a qualificação para as meias-finais mas aí não foi além do 20.º tempo, entre 24 participantes.
Também em 2015 fez história em Cali, no Mundial de Juniores. O japonês juntou o título dos 100 ao dos 200 metros, com o bónus de ter batido o recorde que pertencia a Bolt por seis centésimos (20,34). Além disso, como tantas vezes é habitual no jamaicano, Sani Brown foi o mais lento a sair dos blocos após o tiro de partida.
O atleta vai ser o velocista mais jovem em Londres e tem o sonho de poder estar ao lado de Bolt (30 anos) na despedida do jamaicano. «Esta vai ser a sua última participação em Mundiais, por isso vou tentar fazer o meu melhor para correr contra ele na final», disse.
Os dois nunca correram ao mesmo tempo. Em 2015, estiveram em séries diferentes tanto nas eliminatórias como na meia-final e no ano passado, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o japonês foi obrigado a falhar o evento devido a uma lesão na coxa esquerda.
«Estou mesmo desiludido», disse na altura. «Agora vou ter de continuar a fazer o meu melhor e apontar aos Jogos Olímpicos de Tóquio», acrescentou. Em 2016, a sua melhor marca era de 10,28 segundos, agora está a ameaçar quebrar a barreira dos dez, depois de se ter sagrado campeão japonês em junho com um tempo de 10,05.
Pode ser a oportunidade perfeita para estar finalmente lado a lado com Usain Bolt, e provavelmente a última, até porque o jamaicano já garantiu que não vai correr os 200 metros. Nada mau para alguém que esteve prestes a abandonar o atletismo devido às dores de crescimento.
RPS/SSM