Sang-Moon Bae. Uma carreira destruída pelo serviço militar
Paulo Futre conseguiu escapar ao serviço militar em Portugal. Em maio de 1987, Pinto da Costa reuniu com o ministro da Defesa e garantiu um adiamento até setembro, para que o jogador pudesse disputar a final da Taça dos Campeões Europeus. Em agosto, já no Atlético Madrid, Futre teve de convencer Mário Soares.
O Presidente queria que Futre desse o exemplo a todos os portugueses, mas acabou por ceder ao criar o estatuto de atleta de alta competição. Sang-moon Bae não teve a mesma sorte na Coreia do Sul. Em 2015, o golfista que então tinha 29 anos era um dos quatro sul-coreanos com pelo menos um título em torneios do PGA Tour, mas nem isso lhe garantiu um regime especial.
Ou melhor, começou por ser privilegiado, mas não chegou para sempre. Quando a isenção expirou no final de 2014, Sang-moon Bae entrou numa batalha judicial para garantir novo período e relembrou o tribunal distrital de Daegu de que tinha residência nos EUA e deveria ter direito a novo adiamento. A resposta não foi a esperada. Até porque o tribunal realçou que Bae passara cerca de 100 dias na Coreia do Sul em 2014 e estava a frequentar uma licenciatura.
Os homens entre 25 e 35 anos que ainda não tenham completado o serviço militar precisam de uma licença especial para continuar no estrangeiro, e o tribunal não lhe fez a vontade. «Depois da decisão, aprendi que, para mim, é maior a prioridade de cumprir o meu dever como coreano do que fazer o meu trabalho como golfista», comentou.
A partir daí, Bae entrou numa guerra contra o relógio, sabendo que a época de 2015 acabaria sempre da mesma forma: com um regresso contra a vontade. Numa temporada em que recebeu mais de dois milhões de dólares em prémios, o sul-coreano tinha pela frente um salário de 130 dólares por mês enquanto estivesse na tropa.
Com a inevitabilidade cada vez mais próxima, Sang-moon Bae admitiu que o assunto estava cada vez mais presente na sua cabeça. Tão presente que a última ronda da prova da FedEx Cup em setembro de 2015 foi fatal. À partida para o quarto dia, Bae estava igualado com Jason Day (11 pancadas abaixo do par). Depois, o australiano terminou com -19, enquanto Bae caiu para -9.
«É uma situação muito difícil. Estou a pensar nisso a toda a hora. Sou profissional e o que quero mesmo é jogar golfe. Mas isto é obrigatório na Coreia do Sul. É um bocado triste», lamentou. Se tivesse vencido a prova, Bae garantiria desde logo a presença na Presidents Cup, prova que se disputaria em casa, Seul, em outubro.
Sang-moon Bae acabou por conseguir o convite para uma das duas vagas restantes e o PGA Tour até criou uma isenção especial para permitir que, quando regressasse, dois anos depois, continuaria a ter os mesmos direitos de 2015. Mas, por essa altura, o medo já era outro. Bae esperava, e com razão, que continuasse a ter a mesma capacidade, os mesmos resultados, a mesma confiança.
Quando regressou, Bae tinha caído da posição 88 do ranking para a posição 1869. E esqueceu-se de como jogar golfe. «Não pude jogar enquanto prestava serviço porque era atirador. Tinha cinco ou seis dias de descanso por mês mas a Coreia do Sul é muito fria durante o inverno. Cinco dias não são suficientes para jogar e nesse período preferia estar com a minha família», disse.
«Esqueci-me de como se jogava golfe, não apenas de como se fazia o swing», lamentou. E nunca mais regressou a um major. Até 2015, tinha 12 presenças numa das quatro grandes provas da temporada, com o melhor resultado a ser um 33.º lugar no Masters em 2015.
O serviço militar, cumprido com compatriotas até dez anos mais novos, marcou o fim da sua carreira ao mais alto nível. Pode ter aprendido a atirar numa espingarda, e confessa que até o faz bem, mas nunca mais foi o mesmo com um taco.