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É Desporto

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17 de Outubro, 2016

Sampdoria 1993/94. Das tranças de Gullit à careca de Lombardo

Rui Pedro Silva

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Não venceu o campeonato mas terminou com mais 28 golos marcados (64) do que o campeão Milan (36). O futebol espetáculo praticado não deu para mais do que o terceiro lugar e a conquista na Taça de Itália, o último troféu na história da equipa de Génova. 

 

Choque cultural em Itália

 

Não é a melhor época na história da Sampdoria, nem podia ser. Afinal, apenas três anos antes tinham conquistado um inédito scudetto, até agora o único campeonato ganho pela equipa de Génova. Nessa altura, uma dupla de ataque fez a diferença, com Gianluca Vialli e Roberto Mancini a marcarem 31 golos (19 + 12).

Em 1993/94 já não havia Vialli, entretanto transferido para a Juventus. Mas a riqueza capilar no plano ofensivo estava assegurada com a contratação de Ruud Gullit, acabado de sair do Milan depois de seis temporadas. Além disso, havia o careca Attilio Lombardo, um jogador que em Portugal não conseguia escapar às comparações constantes com Cacioli, então no Gil Vicente.

Por que é que esta Sampdoria deixou uma marca tão importante? A transmissão de jogos do campeonato italiano em Portugal deve ter ajudado. E os jogos com golos serviam sempre de tónico mais decisivo do que os encontros mais aborrecidos, especialmente para os jovens, do Milan, campeão nessa época com apenas 36 golos em 34 jogos.

O onze-tipo da equipa de… Sven-Göran Eriksson foi composto por Gianluca Pagliuca (a caminho da final do Mundial-1994), Moreno Mannini, Stefano Sacchetti, Pietro Vierchowod, Michele Serena, Attilio Lombardo, Vladimir Jugovic, David Platt, Alberigo Evani, Ruud Gullit e Roberto Mancini.

David Platt com Ruud Gullit

Apenas dois, Pagliuca e Lombardo, estiveram em todos os jogos do campeonato italiano. Dos 64 golos marcados, Gullit (16) e Mancini (12) destacaram-se naturalmente, com Platt (9), Lombardo (8) e Jugovic (7) a surgirem num segundo plano.


Numa fase em que o futebol italiano vivia o seu auge, com Milan, Juventus e Parma a darem cartas fora de portas, a Sampdoria ia contra o estilo da altura, com uma média superior a três golos por encontro (entre os marcados e os sofridos).

Os jogos da equipa de Eriksson tiveram 103 golos. O mais perto que houve nessa época veio do Lecce, lanterna-vermelha do campeonato (28-72) e da Atalanta, penúltima (35-65), ambos com 100. O Milan, campeão, não foi além dos 51 golos (36-15).

Ponto alto do campeonato

O estilo aberto e descomplexado permitia dar espetáculo mas era posto em cheque nas jornadas decisivas. Ao longo da temporada, a equipa de Génova cedeu oito empates e oito derrotas.

 

Contudo, num dos jogos mais espetaculares do campeonato, o estádio Luigi Ferraris assistiu a uma reviravolta fantástica da equipa sobre o Milan. A perder por 0-2 ao intervalo, por culpa dos golos de Albertini e Brian Laudrup, o cenário estava negro. Na segunda parte, contudo, um golo do esloveno Katanec abriu caminho para o triunfo, garantido após o penálti de Mancini (71’) e o golo de Gullit (78’).

Em sentido contrário, houve resultados penalizadores e inesperados, como logo na jornada seguinte, também em casa, com um desaire frente ao Cagliari (1-2) depois de estarem a vencer ao intervalo, ou o nulo fora com o Cremonese.

 

Taça de Itália


A recompensa para uma época de espetáculo chegou na Taça de Itália e de forma contundente. No caminho até à final com o Ancona, Gullit e companhia eliminaram o Pisa (nos penáltis após dois nulos), a Roma (nos penáltis após 2-1 e 1-2), o Inter e o Parma.

 

A 20 de abril de 1994, no dia em que a Itália bateu Portugal na final do Europeu sub-21, a Sampdoria conquistou o último título da sua história até agora.

 

Contra o inesperado Ancona – que havia deixado para trás equipas como Torino, Veneza, Avellino, Nápoles e Giarre – houve 135 minutos sem golos: a primeira mão no terreno do adversário e a primeira parte em Génova.

 

Nos últimos 45 minutos, no entanto, a equipa foi igual a si mesma e partiu para uma goleada por 6-1, inaugurada com um autogolo de Vecchiola aos 50 minutos. Depois também marcaram Lombardo (2), Vierchowod, Bertarelli e Evani – os últimos dois de penálti.

 

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O triunfo valeu a presença na Taça das Taças da temporada seguinte, numa campanha que voltou a gerar um duelo entre Portugal e Itália. 

 

Nos quartos de final, a equipa de Génova eliminou o FC Porto nos penáltis depois de perder 1-0 em casa (Yuran, 65’) e ganhar nas Antas pelo mesmo resultado (Mancini, 48’).

 

No desempate, Vítor Baía não conseguiu defender nenhum remate (disse recentemente que foi uma das suas maiores desilusões) e o falhanço de Latapy fez a diferença. O árbitro foi… Marc Batta.

 

RPS