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É Desporto

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21 de Agosto, 2017

Salwa Eid Naser. A emancipação dos costumes muçulmanos chegou com 18 anos

Rui Pedro Silva

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Sagrar-se campeã mundial júnior a correr de hijab e a cumprir o Ramadão fez dela um exemplo para todas as mulheres muçulmanas que quisessem fazer atletismo. Mas quando chegou à idade adulta decidiu deixar os hábitos para trás… Os resultados continuam a aparecer: é vice-campeã do mundo nos 400 metros e este fim-de-semana venceu na etapa da Diamond League em Birmingham. 

 

O Bahrain como país adotivo

 

Nasceu a 23 de maio de 1998 em África. Filha de mãe da Nigéria e pai do Bahrain, recebeu o nome de batismo Ebelechukwu Agbapuonwu, que usou até se mudar para o Médio Oriente e receber o convite para competir com as cores do Bahrain.

 

Tinha 16 anos e o atletismo já fazia parte da sua vida, até do seu sangue, uma vez que a mãe tinha corrido os 100 e os 200 metros quando era mais nova. De um nome capaz de enrolar qualquer língua, a adolescente passou para um ligeiramente mais simples: Salwa Eid Naser.

 

Foi com esse nome no dorsal que brilhou nos Mundiais juniores de Cali em 2015. Tinha 17 anos, era mais ou menos desconhecida, e quis o destino que estivesse a cumprir o Ramadão durante as provas de acesso à final. Com um hijab a cobrir-lhe o corpo, Salwa não vacilou e seguiu em frente.

 

A recompensa chegou. O fim do Ramadão chegou na véspera da final e a atleta não deu hipótese, conquistando a medalha de ouro e impressionando o recordista do mundo do decatlo, Ashton Eaton: «Foi fiel ao seu plano de corrida mesmo quando estava a ser ultrapassada pelos dois lados. A sua visão de treino está acima da média para a idade. É um exemplo de maturidade para todos.»

 

A emancipação com a idade adulta

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O título mundial na Colômbia valeu-lhe os elogios de uma organização internacional que defende os direitos das mulheres contra os abusos. «Corre com o hijab e cumpre o Ramadão apesar de ter de competir. É um modelo a seguir para todas as mulheres muçulmanas que queiram fazer atletismo», referiram.

 

O exemplo durou menos de um ano. A partir de 23 de maio de 2016, dia em que completou 18 anos, os costumes muçulmanos tornaram-se coisa do passado. Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro surgiu com o corpo descoberto e há duas semanas, nos Mundiais de Londres, foi vice-campeã mundial já com tatuagens e piercings.

 

Salwa Eid Naser deixou de ser miúda e passou a ser alguém que faz o que quer e o que lhe apetece, quando e com quem quer fazer. Com a sensação de que ainda tem por onde evoluir (estabeleceu recorde pessoal de 50,06 segundos em Londres), já começou a derrotar as suas referências na distância, como Allyson Felix e Shaunae Miller-Uibo.

 

«Na primeira vez que corri 400 metros senti-me tão mal que achei que nunca mais voltaria a essa distância. Mas a minha professora insistiu que eu daria uma bela quatrocentista, por isso não tive escolha. Estou muito grata por a ter ouvido», garantiu.

 

No último domingo, em Birmingham, a atleta do Bahrain foi a mais rápida na etapa de Birmingham da Diamond League e voltou a bater Allyson Felix, bem como a campeã mundial Phyllis Francis. O aviso foi feito em Londres: «Só estou aqui para ganhar experiência. Acho que consigo ser ainda mais rápida».

RPS