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É Desporto

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06 de Fevereiro, 2022

Saba Kumaritashvili. O legado à frente da tragédia

Rui Pedro Silva

Saba Kumaritashvili

Foi uma das notícias mais marcantes dos Jogos Olímpicos de Vancouver, em 2010. Durante um treino que antecedia a competição de luge um atleta georgiano perdeu o controlo da sua trajetória numa curva à direita, saiu de pista e acabou a colidir com violência num pilar que fazia parte da estrutura.

O atleta chamava-se Nodar Kumaritashvili. Doze anos depois, em Pequim, a Geórgia voltou a ter um luger na competição e, uma vez mais, o apelido não deixou dúvidas. Kumaritashvili, Saba Kumaritashvili.

À primeira vista poderia ser apenas uma coincidência. Kumaritashvili poderia ser apenas mais um Arveladze, Kinkladze, Kaladze, Pachulia ou outros nomes georgianos que reconhecemos de outros desportos e julgamos que podem ter todos um traço familiar. No caso, não é apenas uma coincidência: há muito que a família Kumaritashvili domina o luge na Geórgia.

Vamos por partes. Saba Kumaritashvili é primo de Nodar e tinha apenas nove anos quando se deu a tragédia no Canadá. Poderia ter sido suficiente para afastar o interesse na modalidade, mas o legado acabou por se sobrepor à tragédia.

«Estou a continuar o legado de Kumaritashvili», afirmou, acrescentando que o pai está a ajudá-lo ao desempenhar o papel de presidente da federação. «Pensar no meu primo pode ser doloroso mas também me dá força», garantiu.

«Não tive medo. Queria estar nos Jogos Olímpicos competindo. Penso no Nodar. Penso nele o tempo todo. Todos na minha família estão no luge. Após o Nodar, não queria que o luge morresse na Geórgia.»

A ligação da família Kumaritashvili ao luge tem décadas e não se limita a Pequim-2022 e Vancouver-2010. Aleko Kumaritashvili, o bisavô de Saba, participou na construção da primeira pista de luge da república soviética socialista durante a década de 70. Além disso, desempenhou também o papel de treinador da seleção.

O cargo de presidente da federação pode estar a cargo do pai de Saba neste momento mas, mais uma vez, há uma ligação de décadas com vários Kumaritashvili a passarem pelo lugar. Por isso, não é de espantar que a mancha da morte de Nodar não tenha sido suficiente para afastar Saba de Pequim.

Na China, Saba competiu nas três primeiras mangas e despediu-se com um 31.º lugar em 35 atletas. Nunca foi além do 30.º lugar e perdeu sempre, no mínimo, 2,7 segundos para Johannes Ludwig, o campeão olímpico. Mas a luta dele não era essa. Apareceu, competiu e manteve viva a chama do luge na Geórgia. Tendo em conta que tem apenas 21 anos, não será de espantar se voltar a aparecer daqui a quatro anos em Cortina D’Ampezzo.