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É Desporto

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08 de Fevereiro, 2022

Ryan Cochran-Siegle. A verdadeira família olímpica

Rui Pedro Silva

Ryan Cochran-Siegle

Ser olímpico não é para quem quer, é para quem pode. O sucesso no desporto está dependente de doses gigantescas de talento, trabalho e alguma sorte, e quando o assunto é Jogos Olímpicos de Inverno parece que há alguns países que são automaticamente votados para a periferia.

Portugal é um deles. Num país em que a tradição de desportos de neve é escassa ou nula, talvez não ajude o facto de as estradas ficarem cortadas sempre que neva na Serra da Estrela. Ainda há assim, há gente capaz de furar bloqueios e fazer o possível para, de quatro em quatro anos, atingir o sonho olímpico. Mesmo que seja alguém da Covilhã, como Ricardo Brancal, por exemplo, que vai competir no cross country.

Ricardo Brancal é um dos três atletas portugueses em Pequim-2022, juntamente com José Cabeça e Vanina Guerillot de Oliveira. Há quatro anos foram apenas dois: Arthur Hanse e Kequyen Lam. Se olharmos para a história dos Jogos de Inverno encontramos ainda os portugueses Camille Dias, Danny Silva, Mafalda Pereira, Fausto Marreiros, Jorge Mendes, António Reis, João Poupada, Jorge Magalhães, João Pires, Rogério Bernardes e Duarte Espírito Santo Silva.

Feitas as contas, nesta aritmética muito complicada, Portugal já teve 16 atletas olímpicos. É uma equipa de futebol à moda antiga, com onze titulares e cinco suplentes. Os valores não espantam. Não chega a ser a comitiva do táxi mas também não chega para encher uma carruagem de um comboio.

Um táxi também não seria suficiente para albergar os olímpicos da família Cochran. Se há países como o Liechtenstein ou a Geórgia em que a presença olímpica é dominada por uma família, com três ou quatro atletas, há outros, como os Estados Unidos, em que as modalidades estão tão disseminadas que a noção de castas é mais complexa.

Mas, ainda assim, aqui e ali, surgem casos verdadeiramente impressionantes. Em Pequim-2022, o esquiador alpino Ryan Cochran-Siegle venceu a medalha de prata no Super G e deixou a família orgulhosa. Falhou o outro por quatro centésimos mas vestiu na perfeição o fato de sexto elemento dos Cochran a competir em Jogos Olímpicos. Isso mesmo, são seis.

O esqui é uma das atividades preferidas da família e na década de 70 houve espaço para quatro presenças em Jogos Olímpicos. A mãe, Barbara Ann Cochran, é a figura de poder nesta família e conquistou a medalha de ouro no slalom nos Jogos Olímpicos de 1972, em Sapporo.

Nesses mesmos Jogos também competiu a tia Marilyn Cochran (slalom gigante e downhill) e o tio Bob Cochran (slalom gigante e downhill). Quatro anos depois, em Innsbrück, foi a vez de outra tia, Lindy Cochran, competir no slalom. Com mais cinco elementos da família com ligação umbilical ao esqui, a começar pelo avô, que era treinador, foi preciso esperar até 2006, em Turim, para que a família regressasse aos Jogos Olímpicos, na altura com o primo Jimmy Cochran.

«Quando era pequeno, olhava para as fotos e vídeos daquela era da minha mãe e dos meus tios. Achava que eles eram mesmo da velha guarda. Entretanto, a minha prima entrou para a equipa dos Estados Unidos quando eu tinha oito e nove anos, numa altura em que eu e o meu primo Robby começámos a disputar corridas. Acho que foi nessa altura que achei que poderia ser como eles um dia», admitiu.

«É uma fonte de orgulho para mim. Tento ser o melhor para a minha família. Aprendi isso com eles mas é algo que também tem de crescer dentro de mim», acrescentou.

Se 11 atletas, seis olímpicos e duas medalhas parece ser já um efeito digno de registo, Ryan é o primeiro a prometer que as coisas podem não ficar por aqui. «Crescei no seio desta família foi a maior influência no meu desenvolvimento como atleta e no meu caráter como ser humano. Tenho sorte suficiente para estar agora numa posição para transmitir estes valores e experiências para as próximas gerações», prometeu.

É uma questão de tempo entre os Cochran. É apenas uma questão de tempo.