Rui Vitória. Do 8 ao 80 em 366 dias?
Há precisamente um ano, o treinador estava numa situação delicada e Rui Costa defendia que a sua continuidade nem se discutia. Em doze meses, tudo mudou.
O fantasma do Sporting de Jesus
O Benfica era uma equipa à procura de se encontrar a 24 de novembro de 2015. Os encarnados estavam no Cazaquistão para defrontar o Astana – um empate seria suficiente para carimbar o apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões – mas a eliminação frente ao Sporting na Taça de Portugal continuava a pairar na mente de todos.
Rui Vitória não tinha vida fácil. Mais do que a derrota na Supertaça, a eliminação na Taça de Portugal e os três desaires em dez jornadas no campeonato, era a inferioridade demonstrada nos duelos contra o Sporting de Jorge Jesus que mais ameaçava. Tanto que, no dia a seguir à derrota em Alvalade, A Bola noticiou que duas dezenas de adeptos tinham invadido o centro de treinos no Seixal para pedir explicações ao treinador.
O ex-V. Guimarães demorava a assumir-se e a imagem estava manchada entre adeptos: ora pelo irritante hábito de estar sempre com uma garrafa de água, ora pelo discurso redundante que combinava quase sempre duas expressões: o «caminho» e o «se fosse fácil não era para mim/nós».
Além disso, parecia haver uma tendência para apaziguar os ânimos dos adeptos com o lançamento de jovens da formação e equipa B após desaires. Nelson Semedo foi titular logo na Supertaça com o Sporting, Victor Andrade foi suplente utilizado no jogo seguinte, Clésio e Renato Sanches estrearam-se com o Tondela, no rescaldo da humilhação na Luz frente ao Sporting.
Reconhecimento do treinador
O treinador sabia que a situação estava difícil. «Compreendo a contestação dos adeptos, nós também não ficámos contentes quando perdemos. Na altura das derrotas, sobra sempre para muito poucos. Esperamos dar agora uma alegria», desejava.
Rui Costa dava fôlego ao treinador: «A continuidade de Rui Vitória nem se discute. Em Rui Vitória nem se toca. Não nos escondemos, trabalhamos diariamente para melhorar.»
A melhoria chegou e o jogo de Astana até esteve no início dessa mudança. Renato Sanches foi titular pela primeira vez - mais uma vez, um momento marcante de aposta em jovens que chegou após um resultado negativo - e a equipa reagiu a uma desvantagem de 2-0 para conseguir o empate no Cazaquistão e consequente apuramento, selado duas horas depois com a vitória do Atlético Madrid frente ao Galatasaray, para os oitavos de final. Curiosamente, um ano depois, o apuramento não foi conseguido depois de se deixar fugir uma vantagem de 3-0.
No campeonato, a vitória em Braga dias depois deu outra confiança que, ainda assim, não foi suficiente para evitar que nova perspetiva de crise se instalasse quando a equipa cedeu dois pontos no jogo em atraso com o União Madeira.
A partir daí, sim, tudo mudou. Renato Sanches empolgou os adeptos, Rui Vitória ganhou margem de manobra e o triunfo em Guimarães, com um golo do jovem, marcou definitivamente a recuperação.
Hoje, um ano depois da conferência de imprensa no Cazaquistão, Rui Vitória já venceu o campeonato, a Taça da Liga e atingiu os quartos de final da Liga dos Campeões. Esta época, o balanço continua sólido com a liderança na liga com cinco pontos de vantagem sobre FC Porto e Sporting.
Rui Vitória tinha um caminho. Pode ter metido água em vários obstáculos mas resistiu. E está hoje, um ano depois, muito mais confortável do que estava em novembro de 2015. E só em dezembro jogará pela primeira vez com o Sporting.