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É Desporto

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24 de Outubro, 2016

Ray Chapman. A tragédia no primeiro título dos Indians

Rui Pedro Silva

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Os Cleveland Indians vão tentar conquistar a terceira World Series da sua história. Na primeira, em 1920, a época ficou marcada por uma tragédia: o shortstop Ray Chapman morreu depois de ter sido atingido na cabeça por uma bola durante o jogo contra os New York Yankees de Babe Ruth.

 

E de repente, tudo mudou…

 

Segunda-feira, 16 de agosto de 1920. Os Cleveland Indians lideram a American League e sonham com o primeiro título da história. Nessa tarde, em Nova Iorque, jogam no Polo Grounds frente a uns New York Yankees que já têm Babe Ruth.

 

O lançador dos Yankees chama-se Carl Mays e está à procura da centésima vitória da carreira. No quinto inning, pela frente, tem o shortstop Ray Chapman. A equipa está a perder 0-3 e Mays tenta o melhor lançamento possível, numa altura em que a visibilidade no estádio já era afetada pela neblina e pelo crepúsculo.

 

A bola parece bater no taco de Chapman e Mays corre para ela, enviando-a para a primeira base, julgando que tinha acabado de eliminar mais um adversário. Só depois percebe que o impacto estrondoso que ouviu não foi o do taco de madeira do adversário, mas sim o do seu crânio.

 

Ray Chapman, com a mulher grávida de três meses, tinha 29 anos e estava a poucos dias de celebrar o seu oitavo aniversário enquanto jogador da Major League Baseball. Operado de urgência, morreu minutos depois das quatro da manhã.

 

Não havia capacetes, só seriam usados a partir da década de 50. E contam as notícias da época que Chapman não teve a menor reação durante o lançamento. Foi como se não tivesse visto a bola a aproximar-se.

 

Incrédulo e em estado de choque, Carl Mays decidiu entregar-se à polícia quando soube que tinha desenrolado um papel fundamental na morte de um adversário. Sentia-se culpado, sentia que tinha feito um lançamento mais perigoso.

 

A polícia recolheu o depoimento mas decidiu não avançar com qualquer acusação. Anos mais tarde, Mays ainda não tinha esquecido o incidente: «Foi o momento de que mais me arrependo na minha carreira. Daria tudo para poder voltar atrás e reverter o que aconteceu.»

 

Carl Mays era um dos melhores lançadores da sua geração – jogou até 1929 – mas, apesar do registo de 207 triunfos e 126 derrotas, nunca chegou ao Hall of Fame. «Ninguém se lembra de mim a não ser por um episódio: a vez em que lancei uma bola que provocou a morte de um homem.»

 

Na notícia do New York Times de 17 de agosto de 1920, pode ler-se que os jogadores dos Indians viram Mays como culpado mas o treinador-jogador Tris Speaker é citado, dizendo que não devia ser assim: «É dever nosso, não apenas pelo bem do jogo mas também por respeito ao pobre homem que acabou de morrer, suprimir toda a amargura que sentimos».

 

A morte de um colega deixou marcas nos jogadores. «Deixou de importar se vamos voltar a jogar basebol ou não. Não conseguimos imaginar jogar sem o Chappie», contava Jack Graney.

 

Mas continuaram a jogar. Com 98 triunfos e 56 derrotas, venceram a American League e foram à primeira World Series da sua história, frente aos Brooklyn Robins. Jogando em memória de Ray Chapman, com a devida homenagem no equipamento, os Indians estiveram a perder 1-2 em jogos mas partiram para uma série de quatro triunfos consecutivos rumo ao primeiro de dois títulos (1920 e 1948).

 

Ray Chapman continua a ser a única vítima de um lançamento num jogo da MLB.