Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

É Desporto

É Desporto

20 de Novembro, 2018

Ray Caldwell. O pitcher que foi atingido por um raio e ainda terminou o jogo

Rui Pedro Silva

Ray Caldwell ao serviço dos Yankees

Foi há praticamente cem anos. A 24 de agosto de 1919, Ray Caldwell, lançador dos Cleveland Indians, foi atingido por um raio quando a equipa vencia por 2-1 já no nono inning. O jogador ficou inconsciente, mas recuperou os sentidos e ainda foi a tempo de eliminar o adversário que faltava para garantir o triunfo.

 

Há histórias que são tão insólitas que pensamos que só podem ser mentira. Depois há esta de Ray Caldwell, há quase um século, que nos obriga a fazer uma viagem a um passado onde o profissionalismo era uma miragem distante, a preocupação com a condição física dos jogadores era uma piada e ser eletrocutado, depois de atingido por um raio, não era mais do que uma excelente nota de rodapé de um jogo propício para os trocadilhos.

 

«Lançador elétrico» e «exibição eletrizante» são apenas duas das expressões que já se escreveram sobre a carreira de Ray Caldwell, um jogador que tinha sido dispensado dos Boston Red Sox umas semanas antes e fazia a estreia pelos Cleveland Indians.

 

Com a época a entrar na reta final, a equipa do Ohio disputava o título da Liga Americana com os Chicago White Sox. Quem vencesse, seguiria para a World Series. Naquela tarde, num dia quente, Ray Caldwell entrou para o League Park em Cleveland para tentar derrotar os Philadelphia Athletics.

 

Estava tudo a correr bem. A equipa vencia por 2-1 e já só faltava eliminar um adversário. Joe Dugan foi chamado a bater e, com ele, chegou também uma tempestade que aterrorizou os espetadores. «O flash dos relâmpagos aqui e ali causaram muita excitação», escreveu Harry P. Edwards no The Sporting News sobre o momento em que os consecutivos estrondos provocaram o êxodo em massa dos adeptos em busca de proteção.

 

Para os jogadores, não havia margem. «Houve um flash enorme capaz de cegar e Caldwell ficou caído no chão. Os colegas de equipa temeram que tivesse morrido», escreveu também. O impacto foi tão forte que o chapéu e a máscara do catcher Steve O’Neill voaram. Até o árbitro Billy Evans se queixou do momento: «Todos conseguimos sentir a dormência do choque elétrico a percorrer-nos o corpo, sobretudo nas nossas pernas».

 

Ray Chapman, jogador dos Indians que viria a morrer no ano seguinte atingido por uma bola, foi um dos que mais ficou afetado. Mas Caldwell, também Ray, não se queixou. Nem podia. Estava no chão, inconsciente, e assim ficou, de acordo com testemunhas, durante cinco minutos.

 

Quando recuperou os sentidos, tentou perceber se estava tudo bem, certificou-se que não tinha nenhuma mazela incapacitante e percebeu que tinha apenas umas ligeiras queimaduras no peito. «Foi como se alguém se tivesse aproximado de mim com uma prancha e me tivesse atingido na cabeça para me derrubar», contou depois.

 

O impacto não o afastou do jogo. Faltava apenas eliminar um adversário, Joe Dugan, e Caldwell quis garantir que fazia o encontro completo na sua estreia. Resultado? Precisou de apenas mais um lançamento para começar a escrever a sua história em Cleveland com um triunfo.

 

Apesar dos esforços de Caldwell, os Indians não conseguiram levar a melhor sobre os White Sox no acesso à World Series. Curiosamente, este foi o ano que ficou manchado pelo escândalo de jogos combinados, mais conhecido por «Black Sox».