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É Desporto

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01 de Junho, 2017

Ranking da UEFA. O peso histórico dos três grandes

Rui Pedro Silva

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Sporting foi o primeiro a ajudar, Benfica foi mais vezes melhor mas nenhum deu tantos pontos como o FC Porto. Alteração dos métodos de atribuição de pontos no final do século aliada à pior fase na história dos encarnados e à glória europeia dos dragões ajudou a estabelecer diferenças. 

 

A verdadeira importância do ranking

 

Os rankings existem por um motivo. Seja para criar potes nos sorteios das fases de grupos de competições de clubes ou seleções ou para definir cabeças-de-série em rondas a eliminar, o objetivo último estará sempre em garantir que o petit gâteau não seja servido antes das entradas.

 

É óbvio que ajuda a perceber, num determinado momento, quais são as melhores equipas europeias, mas o benefício lúdico de gritar aos sete ventos a liderança num ranking é muito curto quando comparado com a possibilidade de poder escapar aos tubarões nas fases preliminares de uma competição europeia ou mundial.

 

Pode ser curto mas não deixa de ser insistente. Faz parte da rivalidade. Os adeptos têm embutida a vaidade de comparar os pontos que cada equipa deu ao ranking do país no final da temporada, mais por uma questão de gabarolice do que por orgulho nacional.

 

Os argumentos são sempre os mesmos: fala-se nas conquistas europeias, nos anos em que determinadas equipas estiveram ausentes ou na regularidade com que dão pontos que contribuem para que Portugal consiga estar numa boa posição e, por consequência, ajudar a incluir mais equipas nas competições europeias.

 

Esta pesquisa não tem a intenção de resolver as querelas – isso seria impossível. Até porque, como será explicado, continuará a haver forma de ver a mesma quantidade de água num copo de diferentes maneiras. A UEFA também não ajuda: desde 1955, alterou o método de atribuição de pontos em três ocasiões: em 1998/99, em 2003/04 e em 2008/09.

 

Antes de aprofundar a situação, deixamos as conclusões finais: o FC Porto é a equipa portuguesa que mais pontos conquistou para o ranking na história das competições europeias (388,6399) e o Benfica é a equipa portuguesa que foi mais épocas melhor (32 temporadas – oito delas com os mesmos pontos ou de Sporting ou de FC Porto).

 

Um título europeu por dois pontos

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Por mais rivalidade que exista, dificilmente se pode pôr em discussão que o Benfica foi a equipa portuguesa com mais projeção europeia até à década de 80, período em que o surgimento do FC Porto, com duas finais europeias, começou a estabelecer os alicerces para o novo horizonte.

 

Por isso mesmo, o Benfica surgiu naturalmente como a equipa portuguesa mais pontuada durante o período do primeiro método de atribuição de pontos: entre 1955 e 1998. Com 49,919 pontos, os encarnados conseguiram uma vantagem confortável sobre FC Porto (39,323) e Sporting (36,553).

 

Durante este período de 43 anos, Portugal conquistou quatro títulos europeus: três Taças dos Campeões Europeus e uma Taça das Taças. Na altura, no entanto, o sistema era tão diferente que Benfica (1961) e FC Porto (1987) não conseguiram mais do que dois pontos com o título. O bicampeonato das águias em 1962 só valeu 1,714 pontos, enquanto a Taça das Taças do Sporting em 1964 valeu 1,555 pontos.

 

A estreia dos leões na época inaugural da Taça dos Campeões Europeus (1955/1956), rendeu 0,5 pontos à equipa de Alvalade, fruto do empate a três golos com os então jugoslavos do Partizan.

 

Durante estes 43 anos, o Benfica foi a equipa que mais pontos deu em 23 edições (duas em igualdade com o Sporting e outras duas com o FC Porto). Os leões estiveram no topo em 13 edições e os dragões em 12 (em três delas estiveram ambos em igualdade).

 

Uma Taça UEFA dá mais do que 26 pontos

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A primeira mudança do método em 1998 foi a mais significativa para as contas do ranking. Em 1997/98, numa época em que Sporting e FC Porto foram eliminados na fase de grupos da Liga dos Campeões e o Benfica caiu com o Bastia na primeira ronda da Taça UEFA, os três grandes contribuíram com pouco mais de dois pontos: um do Sporting, 0,666 do FC Porto e 0,5 do Benfica.

 

De repente, tudo mudou. O Sporting pode ter caído na primeira eliminatória com o Bologna de Signori mas contribuiu com 1,75 pontos, enquanto Benfica e FC Porto, apesar de eliminados na fase de grupos da Liga dos Campeões, somaram 8,75 e 7,75 pontos respetivamente.

 

A mudança do método coincidiu com dois momentos significativos na vida do futebol português: o ressurgimento da glória europeia com o FC Porto de Mourinho e o desaparecimento do Benfica, com dois afastamentos consecutivos das competições europeias. Foi aqui que se estabeleceu a diferença na contribuição que ainda hoje se nota no ranking.

 

O método durou até à temporada em que o FC Porto conquistou a Taça UEFA (2002/03), que valeu 26,375 pontos aos dragões. Na mesma época, a segunda consecutiva fora da Europa, o Benfica aproveitou os pontos automáticos atribuídos ao facto de ser uma equipa portuguesa e somou 5,375.

 

(Esta é uma boa altura para ajudar a clarificar uma situação: embora estejamos quase sempre a falar de contributo e na quantidade de pontos que cada equipa deu ao ranking de Portugal, há sempre um peso imediato que os clubes têm pelo país que representam e que depende do ranking deste. Percebamos esta diferença e continuemos…)

 

O segundo método durou precisamente até 2002/03. Neste espaço de cinco temporadas, a diferença entre FC Porto e os dois históricos rivais foi abismal: os dragões somaram 86,719 pontos, mais do que Sporting (32,7915) e Benfica (30,7915) juntos. Fazendo as contas, o Sporting foi a equipa que mais pontos somou no ranking da UEFA entre 1955 e 1960, o Benfica substituí-o em 1961 e manteve a liderança até 2000. Desde então, a história tem sempre os dragões na liderança.

 

Fase dourada em Portugal

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O terceiro método, com alterações pouco significativas, esteve em vigor entre 2003 e 2008. Durante estas cinco temporadas, o nível das três equipas esteve muito equilibrado e a um patamar médio-alto.

 

O maior destaque vai claramente para o título europeu do FC Porto logo a abrir que, ainda assim, pouco mais valeu do que a Taça UEFA da época anterior (26,3825 contra 26,375). Na época seguinte, em 2004/05, os leões tiveram a melhor época da história em total de pontos (25,695) graças à presença na final da Taça UEFA, perdida em Alvalade.

 

A conquista da Liga dos Campeões foi determinante para o FC Porto dominar este segmento (81,176 pontos contra 77,176 do Benfica e 67,176 do Sporting), uma vez que só nessa edição conseguiu pontuar mais do que os rivais, que assumiram o topo duas vezes cada um.

 

O método atual

 

A alteração feita em 2008 continua em vigor até ao momento. Estas nove temporadas têm sido dominadas pelo Benfica, apesar de o FC Porto de André Villas-Boas ter estabelecido um recorde para pontos conseguidos numa só época (31,76 em 2011).

 

Durante este período, o Benfica foi seis vezes a melhor portuguesa (duas temporadas em igualdade com o FC Porto) e também conquistou o maior número de pontos entre os três: 185,2166 contra os 181,2154 do FC Porto e 100,216 do Sporting.

 

A melhor marca de sempre do Benfica foi conseguida por Jorge Jesus em 2013/14, quando a equipa perdeu a final da Taça UEFA com o Sevilha em Turim (30,9832).

 

As contas finais continuam, ainda assim, a dar uma grande vantagem ao FC Porto: 388,6399 pontos. O Benfica surge na segunda posição com 320,1365 pontos, enquanto o Sporting está num distante terceiro lugar, com 236,2539. Para encontrar a última temporada em que os leões fizeram mais pontos do que os rivais é preciso recuar até 2007/08, ano em que atingiram os quartos-de-final da Taça UEFA (eliminados pelo Rangers) após terem começado a época na Liga dos Campeões.

 

RPS