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É Desporto

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19 de Setembro, 2017

Quem é a Adelaide? A juíza do boxe que foi para a jarra

Rui Pedro Silva

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Gennady Golovkin e Canelo Álvarez tinham tudo para protagonizar o melhor combate do ano. Depois de doze assaltos que tiveram momentos espetaculares, a decisão estragou a noite. Uma juíza viu o que mais ninguém tinha visto e fez renascer as críticas ao seu passado. 

 

Boxe... a sério

 

Era o combate de boxe mais ansiado do ano. O ex-reformado Mayweather contra o não-pugilista McGregor ficou com todo o destaque mediático mas as atenções dos maiores adeptos de boxe estavam centradas no combate de 16 de setembro.

 

De um lado, o cazaque Gennady Golovkin, com 37 vitórias em 37 combates, 33 deles por knockout. Do outro, o mexicano Canelo Álvarez, com 49 vitórias em 52 combates (34 por knockout) e apenas duas derrotas: uma delas contra Floyd Mayweather. 

 

O título em jogo era o de pesos médios mas os dois pugilistas eram autênticos pesos pesados no mundo do boxe. Agressivos, ofensivos, espetaculares. Golovkin, mais conhecido por Triple G, já tem 35 anos e parece estar na curva descendente da carreira mas foi encarado como favorito. 

 

E pareceu confirmá-lo. Durante os 36 minutos do combate, espalhados por 12 assaltos de três minutos, Golovkin perseguiu Canelo pelo ringue. Em alguns momentos, o mexicano parecia encarnar Muhammad Ali, encostado às cordas no Rumble in the Jungle, esperando o momento ideal para atirar George Foreman ao tapete.

 

Mas nada disso aconteceu. Canelo conseguiu atingir Golovkin várias vezes - algumas delas com muita dureza - mas Golovkin pareceu ter o sinal mais. Era a opinião dos comentadores na transmissão e dos jornalistas nas redes sociais. À entrada para os últimos três assaltos, a ideia parecia simples: Canelo já só conseguiria ganhar o combate por knockout.

 

Não o fez. E quando a campainha tocou pela última vez, sentiu-se que Golovkin tinha vencido. O cazaque foi lesto a levantar os braços em sinal de festejo, motivando o movimento reflexo em Canelo apenas instantes depois. Parecia falso, pouco confiante. Mas o golpe de teatro estava apenas a começar.

 

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Quando os resultados foram anunciados, o primeiro dos três juízes deu a vitória a Canelo por uns estranhos 118-110. O segundo deu o triunfo a Golovkin (115-113) e o terceiro estabeleceu um empate a 114. Estranho, surpreendente, impercetível.

 

Especialistas percebem o empate a 114 (está dentro dos limites da interpretação decidir que cada um venceu seis assaltos) mas o 118-110 atribuído por Adelaide Byrd foi considerado um absurdo. E, ao mesmo tempo, esperado por muitos.

 

Quem é a Adelaide?

 

A velhota do anúncio com problemas de audição não é a única interessada em saber quem é a Adelaide, apesar de ser já uma velha conhecida destas situações menos percetíveis no mundo do boxe. Às cinco da manhã de domingo em Lisboa, as redes sociais estavam inundadas de críticas ao mundo sujo do boxe. Corrupção, resultados combinados, manipulação. Lia-se de tudo.

 

E Chris Mannix, jornalista da Yahoo Sports, surgiu em destaque com um tweet na ordem do "eu bem avisei". De facto, tinha a prova para o aviso. Na verdade, não era mais do que uma recordação do que havia escrito três dias antes. 

 

 

Vamos ser ousados: Adelaide Byrd parece ser um Bruno Paixão do pugilismo. Pontua combates de boxe desde 1997 e é recurso habitual da Golden Boy Promotions, empresa de organização de combates de Oscar de La Hoya.

 

Nos 441 combates anteriores a este em que esteve, nem sempre fugiu à polémica. Em 2008, por exemplo, deu vantagem tangencial a Bernard Hopkins quando os dois colegas tiveram veredictos vantajosos para Joe Calzaghe. No ano passado, também num combate de Canelo, contra Amir Khan, foi a única a dar a derrota ao mexicano.

 

Não são os únicos casos mas ajudam a marcar a tendência. Tanto que, no ano passado, tentaram evitar que fosse uma das escolhidas para o combate entre Vasyl Lomachenko e Nicholas Walters. «Todos têm direito a ter uma noite má, mas quando ela tem uma noite má parece estar sempre demasiado longe do resultado correto», queixou-se Carl Moretti, vice-presidente da Top Rank.

 

Naturalmente, foi defendida. Mas há um limite para tudo. Agora, dois dias depois do combate de Las Vegas, Adelaide Byrd foi posta na jarra. A confirmação chegou pela voz de Bob Bennett, diretor executivo da Comissão Atlética do Nevada, que referiu que a juíza vai fazer uma "curta interrupção" na carreira para sair da ribalta.

 

«Não vou voltar a escolhê-la tão cedo. Ela vai continuar neste mundo mas precisa de recuperar o fôlego», acrescentou.

 

A decisão vai ao encontro do que Bennett já tinha dito numa primeira reação. «Ser juíz é um grande desafio. Infelizmente, a Adelaide esteve um pouco ao lado neste combate. Acho que é uma juíza incrível e, tal como em todo o lado, às vezes tem-se um mau dia. Ela viu o combate de outra forma. Acontece.»

 

Críticas na comitiva de Golovkin

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O pugilista cazaque não gostou do que aconteceu e garantiu que «isto não é bom para o mundo do boxe», apelidando a decisão de terrível e inacreditável.

 

O treinador Abel Sánchez foi ainda mais longe. «Acho que deve ter entregado o cartão de pontuação antes do início do combate. Tive suspeitas assim que anunciaram a lista dos juízes. Acho que precisa de voltar para a escola para aprender a pontuar um combate. Alguém tem de fazer alguma coisa em relação a isto.»

 

Para o promotor Tom Loeffler, julgar um combate daquela forma retira a grandeza da exibição dos dois no ringue. «Francamente, isto não é bom para o mundo do boxe. É justo dizer que foram assaltos equilibrados mas a HBO tinha o Gennady a vencer por quatro», disse.

 

A verdade é esta: não houve vencedor e o próximo combate, com agenda prevista para 5 de maio, promete ser ainda mais mediático. É o mundo do boxe.

RPS

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