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É Desporto

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31 de Maio, 2018

Quando Alex Ferguson levou a Escócia ao Mundial

Rui Pedro Silva

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A morte de Jock Stein no final de um jogo da qualificação europeia catapultou o adjunto para um papel interino. Ferguson confirmou o apuramento no play-off com a Austrália mas a campanha no México foi pautada pela desilusão. Conferência de imprensa de despedida foi marcada por críticas duras à FIFA e aos uruguaios. Cinco meses depois chegou ao Manchester United. 

 

Uma promoção dramática

 

Alex Ferguson nunca quis ser selecionador da Escócia. O então treinador do Aberdeen fazia parte da equipa técnica mas como adjunto de Jock Stein, um homem que admirava e a quem deve, entre outras coisas, a inspiração de oferecer garrafas de vinho a treinadores adversários.

 

O escocês não queria mas a vida – e a morte – trocou-lhe as voltas. A 10 de setembro de 1985, no último jogo do grupo de apuramento para o Mundial-1986, a Escócia precisava de garantir pelo menos um empate em Gales para manter viva a esperança de chegar ao México.

 

O jogo não ia ser fácil mas a Escócia estava a viver uma das suas melhores eras, com jogadores como Steve Archibald, Graeme Souness, Gordon Strachan, Kenny Dalglish, Alex McLeish, Jim Leighton ou Frank McAvennie. Os galeses adiantaram-se no marcador aos dez minutos mas a emoção foi sempre o denominador comum da partida e o tão desejado empate chegou já perto do fim, aos 80 minutos (Davie Cooper de penálti).

 

Jock Stein não resistiu. Praticamente em cima do apito final do holandês Jan Keizer, o técnico levantou-se, julgando que a partida tinha acabado, apenas para cair no relvado junto à linha lateral. O momento provocou grande confusão, até porque o jogo terminou mesmo momentos depois, e Stein, um homem de 62 anos e com uma saúde muito vulnerável, não resistiu.

 

O óbito foi declarado cerca de trinta minutos depois do final do encontro e, apesar de se ter pensado que se tratava de um ataque cardíaco, foi resultado de um edema pulmonar provocado por uma doença cardíaca.

 

O empate não garantiu o apuramento direto mas valeu à Escócia a disputa de um play-off intercontinental com o representante da Oceânia. A falta de tempo para preparar uma boa alternativa levou os dirigentes escoceses a falar com, e a convencer, Alex Ferguson. Começou por ser apenas por uns dias mas rapidamente se percebeu que o acordo seria válido até junho de 1986, caso a Escócia conseguisse o apuramento.

 

De Melbourne ao México

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A Austrália foi um adversário frágil e a Escócia confirmou o favoritismo. Depois de um triunfo em Glasgow por 2-0, um empate a zero em Melbourne onde o desgaste da viagem, com fatura para o futuro, foi a maior derrota do grupo de Ferguson.

 

Os meses que se seguiram foram um pesadelo para Alex Ferguson. Treinador do Aberdeen, tentava fazer o possível para conciliar as duas tarefas e tinha pouca ou nenhuma paciência para os problemas burocráticos que lhe eram impostos, como por exemplo quando o Celtic se recusou a autorizar a viagem a três jogadores para um particular com a Holanda.

 

Ferguson não queria entrar em guerras. E era inteligente o suficiente para saber que ser treinador do Aberdeen e selecionador escocês simultaneamente era um problema à beira de rebentar. Por isso, afirmou publicamente que não queria sequer ser equacionado para assumir o cargo escocês a tempo inteiro. Tinha 43 anos, entendia que era demasiado novo e não estava preparado para esse tipo de vida e desafio.

 

Desilusão no grupo da morte

 

A Escócia teve azar no sorteio e ficou integrada naquele que se apelidou de grupo da morte, com Dinamarca, Alemanha (RFA) e Uruguai. Entre os 22 convocados, apenas nove jogavam fora do campeonato escocês, sete em Inglaterra, Souness na Sampdoria e Archibald no Barcelona.

 

Jogadores do Aberdeen? Quatro: o guarda-redes Jim Leighton, os defesas Alex McLeish e Willie Miller e o médio Jim Bett. Jogadores do Celtic? Dois: Roy Aitken e Paul McStay. A maior representação acabava por ser a do Dundee United, com cinco elementos. Naquela temporada, o Celtic tinha sido campeão, à frente de Hearts, Dundee United, Aberdeen e Rangers.

 

A campanha escocesa foi uma enorme desilusão. Souness bem pode ter dito que nunca tinha visto uma seleção tão bem preparada para uma fase final mas a prestação não foi além de duas derrotas (0-1 vs. Dinamarca na estreia e 1-2 vs. RFA) e um empate (0-0 vs. Uruguai na despedida).

 

Porém, o apuramento esteve em aberto até ao último segundo do último jogo. Bastava vencer o Uruguai para seguir em frente mas o encontro, arbitrado pelo famoso francês Joel Quiniou, teve mais de batalha do que de futebol.

 

Violência no campo… e nas palavras

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A agressividade dos uruguaios marcou a toada do jogo e logo no primeiro minuto houve um cartão vermelho. A violência continuou a ser o toque de comando mas o árbitro não mostrou ter coragem para se impor e expulsar novo uruguaio, caso fosse necessário. E teria sido… várias vezes.

 

No final, já eliminado, Alex Ferguson mostrou um talento que lhe viria a ser reconhecido muitas vezes mais tarde. «É uma vergonha. [O desempenho do Uruguai] Não faz parte do futebol, é a atitude inteira enquanto nação, não tem qualquer respeito pela dignidade dos outros. É uma desgraça o que fizeram, transformaram o jogo numa farsa».

 

As críticas de Ferguson foram transversais: «Nunca pensei que numa competição como o Mundial, com toda a lengalenga da FIFA sobre disciplina, uma equipa pudesse dominar todo o sistema. Depois do que se passou hoje, de todos os traumas do último ano, digo-vos que estou feliz por ir para casa, acreditem em mim, porque isto não faz parte do futebol e temo-lo aceitado durante anos.»

 

O selecionador estava furioso e não poupava ninguém. «Deixou de ser o problema, é da FIFA. E vai ser o da Argentina na próxima segunda-feira», atirou. Os argentinos não se mostraram incomodados e conseguiram o apuramento ao fazer o que a Escócia só tinha feito uma vez em 270 minutos: marcar um golo.

 

Por essa altura, Ferguson já estava de volta à Escócia e a olhar para o futuro. Uns meses depois, em novembro, assinou pelo Manchester United. E o resto é história… com apenas dois uruguaios: Diego Forlán e Guillermo Varela.