Prólogo. Uma década de making of do Boavista campeão
*Este texto é o lançamento de um especial de cinco partes: «Boavista-2001. O making of de um título»
Posso dizer que me lembro como se fosse hoje. De estar aos domingos à tarde na sala, com o rádio ao lado, de auscultadores na cabeça – para não incomodar a minha família – a ouvir a jornada de futebol. Parecia acontecer tudo ao mesmo tempo, não havia espaço para respirar entre golos e conhecíamos tão bem as vozes de cada um dos relatadores que bastava ouvir o grito para saber em que estádio tinha acontecido a festa do futebol.
Havia muita festa no Bessa. Não era do Boavista, mas confesso que cheguei a querer ser. Olhava para as caras nas revistas de apresentação da época e não havia jogador que não gostasse. João Pinto, sim. Ricky, sim. Marlon, sim. E tantos depois deles. Até aquele equipamento era especial, não por ser esquisito como disse Walter Zenga em setembro de 1991, mas porque era diferente de todos os outros.
Era o Boavistão de Manuel José. Com bons jogadores e bom futebol. E feitos especiais, tanto na Europa como na Taça de Portugal. Era fácil gostar do Boavista. Era fácil torcer por ele na Europa ou em qualquer outro jogo descomprometido.
Os anos passaram e o Boavista manteve a sua identidade. Parecia o rabo de um lagarto. Por cada vez que era cortado e saiam alguns dos melhores talentos, logo outros cresciam nos seus lugares. A constante renovação deste Boavista era impressionante e hoje, olhando para trás, é difícil não pensar em jogadores como Timofte, Artur, Jimmy, Nuno Gomes, Ayew e tantos outros e evitar ficar com um brilhozinho nos olhos.
O futebol do Boavista mudou. Manuel José saiu, houve uma alteração de modelo e, depois de uma transição conturbada com Zoran Filipovic, João Alves e Mário Reis, Jaime Pacheco assumiu o comando da equipa e levou-a aos momentos mais altos da sua história.
Já não era bonito. Tornou-se mais aguerrido, pragmático, às vezes até violento. Mas continuava a ser o Boavista. A equipa que não tinha problemas em bater à porta dos grandes e dizer-lhes que queria sentar-se à mesa.
Durante a próxima semana (a partir de 18 de novembro), o É Desporto vai publicar um especial de cinco partes sobre o making of do Boavista campeão. Começa com a chegada de Manuel José, no verão de 1991, e só termina em 2003, dois anos após o histórico título. Faz-se uma árvore genealógica do plantel, identifica-se tendências e percebe-se, época após época, quais foram as saídas, mudanças e entradas que ajudaram o Boavista a atingir o topo.