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É Desporto

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16 de Janeiro, 2018

Petra Majdic. Mas quem é que precisa de costelas intactas?

Rui Pedro Silva

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Chamam à sua história o Milagre de Vancouver, e não é um exagero. Aos 30 anos, nos seus terceiros Jogos Olímpicos, Petra Majdic conquistou finalmente uma medalha - com quatro costelas partidas e um pneumotórax.

 

Levantar após a queda

 

A carreira de Petra Majdic é longa, e valeu-lhe por várias vezes o título de atleta do ano na Eslovénia, mas teve o seu ponto mais alto - e mais baixo - no mesmo dia.

 

A 17 de fevereiro de 2010, a data da competição de sprint de esqui corta-mato dos Jogos de Vancouver, a eslovena era uma das favoritas às medalhas. Na sua terceira participação olímpica, sentia que era a sua última oportunidade, mas também que estava «na melhor forma de sempre».

 

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Às nove e meia da manhã, começou o aquecimento para a prova. Poucos minutos depois, caiu numa vala de três metros e aterrou num monte de rochas e gelo. «Comecei a gritar e, com os gritos, senti uma dor enorme nas costas», relembra. Já sem esquis, que ficaram partidos na queda, tentou correr até ao local do início da prova, que começaria às 10h35 com a ronda de qualificação.

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«Tentámos pará-la, porque os médicos sabiam o que uma dor daquelas podia significar e disseram imediatamente que estávamos perante uma situação perigosa», disse Ivan Udac, treinador de Petra. Percebendo que não a conseguia demover, fez um acordo: «OK, não vais sprintar, vais só fazer a tua corrida, porque queres competir nos Jogos Olímpicos. Vais devagar, dás a tua volta e vamos para o hospital».

 

Petra concordou - em parte. «Lutei no final, na esperança de conseguir ficar no top-30 [e conseguir a qualificação para os quartos de final], e consegui ficar em 19.º.» No final da corrida, as imagens de televisão mostravam uma atleta deitada no chão, num sofrimento quase desumano e incapaz de se mexer. «Nunca mais pensei numa medalha. Era só uma questão de não desistir.»

 

Agarrar a última oportunidade

 

Tal como combinado, antes da ronda seguinte foi levada a fazer exames médicos - que não mostraram as quatro costelas fraturadas que a queda tinha provocado. Foi por isso que Matej Tusak, psicólogo da equipa, deu o seu aval para que continuasse em prova. «Se alguma coisa estiver partida, não a devemos deixar competir. Mas se não estiver e a dor for só da pancada, não a devemos impedir. Ela não está pronta para ir embora sem uma medalha, esta é a sua última oportunidade.»

 

Depois do exame médico, Petra não conseguia andar, quanto mais esquiar em condições. Ainda assim, quando se ouviu o tiro de partida dos quartos de final, ela lá estava - e a força de vontade deu-lhe o primeiro lugar da sua série e a qualificação para a meia-final.

 

«Estava cada vez mais exausta. Esta prova dura, no total, umas cinco ou seis horas. Antes da meia-final disse para mim mesma 'Já não posso mais, acabou'. Só estava a tentar continuar com a minha história de nunca desistir.»

 

O quarto lugar na sua meia-final valeu-lhe uma repescagem para a última corrida do dia, mas essa prova também trouxe consigo complicações que só se viriam a descobrir mais tarde: uma das costelas fraturadas tinha-lhe perfurado um pulmão.

 

Agora, o importante era aquele momento. «Era a última batalha. Estes eram os meus terceiros Jogos, e voltar novamente à Eslovénia sem uma medalha era um enorme falhanço.»

 

No final da prova, sentiu Anna Olsson a quebrar e viu a sua oportunidade para o bronze a ficar mais próxima. «Comecei a pensar que podia conseguir. Já só faltavam 250 metros, 200 metros, já podia ver a meta. Percebi que ia conseguir», diz.

 

Finalmente os diagnósticos corretos

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Foi sujeita a novos exames antes da cerimónia de entrega de medalhas, que mostraram as fraturas e o pneumotórax. Chegou ao pódio com um tubo no pulmão para ajudar a respiração, em cadeira de rodas, e teve de ser ajudada a subir (e a manter-se) no seu lugar. 

 

«Isto não é um bronze. É um ouro com pequenos diamantes», afirmou na conferência de imprensa que teve lugar momentos depois. «Estou a lutar por isto há 22 anos.»

 

Nove dias depois do fatídico 17 de fevereiro, foi homenageada com o prémio Terry Fox, que reconheceu atletas olímpicos que se destacaram pela coragem, humildade e extraordinárias capacidades atléticas em Vancouver-2010. No ano seguinte, foi considerada a Mulher Eslovena do Ano 2010.

 

Apesar de muitos pensarem que aquela seria a sua última presença em competição, o seu treinador convenceu-a a dar mais um ano à modalidade. Em março de 2011, venceu o título mundial de sprint de esqui corta-mato e, aí sim, pendurou os esquis.

SSM