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É Desporto

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13 de Abril, 2021

Pawel Fajdek. O campeão que pagou o táxi com a medalha de ouro

Rui Pedro Silva

Fajdek com a medalha de ouro de 2015

«Não guardo medalhas de finalista e por isso atirei-a para a bancada. Embora a medalha seja para o derrotado, penso que é um bom presente para ele.»

José Mourinho não gosta de guardar recordações de jogos que perdeu, por isso não abre espaço para grandes dúvidas após receber as medalhas de vice-campeão. Na Supertaça inglesa de 2015, o Chelsea perdeu com o Arsenal e o treinador português voltou a treinar o lançamento da medalha para a bancada.

O ato ainda não é especialidade no atletismo, mas o lançamento do martelo (não a ferramenta em si) é. Nos Mundiais de Atletismo de Pequim-2015, não houve quem superasse Pawel Fajdek nesse campo. O polaco de 26 anos bateu toda a concorrência com um lançamento de 80,88 metros, mais 2,33 metros do que Dilshod Nazarov, premiado com a medalha de prata.

A superioridade clara fez com que Fajdek se sagrasse campeão mundial pela segunda vez consecutiva e deu origem a uma celebração regada com muito álcool. O pior veio depois, na viagem de táxi para o hotel. Pouco consciente das suas ações, decidiu pagar ao condutor com a medalha de ouro.

O arrependimento veio a seguir. Quando percebeu que estava sem a medalha, já mais sóbrio, contactou a polícia local, alegando que tinha perdido o pequeno troféu no táxi. A queixa foi a tempo de ser resolvida, embora o condutor tenha garantido que fora o próprio Fajdek a decidir pagar a bandeirada dessa forma.

Na altura, Pawel Fajdek era uma das maiores potências do lançamento do martelo. Acabara de vencer o segundo Mundial consecutivo, tinha sido medalha de prata nos Europeus em 2014 e ainda estava longe de atingir o estatuto-Mourinho, num período em que as medalhas já se tinham tornado descartáveis.

Hoje, seis anos depois, a medalha de Pequim talvez já não tenha a mesma importância. Fajdek continua a dominar a prova de dois em dois anos e foi novamente campeão em Londres-2017 e Doha-2019. Pelo meio também foi campeão europeu, pela primeira e única vez, em Amesterdão-2016.

A maior lacuna continua a ser o desempenho nos Jogos Olímpicos. Em Londres-2012 somou três tentativas nulas, enquanto no Rio de Janeiro-2016 proporcionou a maior surpresa e, ao mesmo tempo, a maior desilusão da sua carreira ao não conseguir fazer melhor do que 72 metros. Fajdek ficou mais de oito metros abaixo da marca registada um mês antes nos Europeus de Amesterdão e falhou a qualificação para a final.

Será que à terceira será de vez? Fajdek tem os olhos postos em Tóquio e os 31 anos e o adiamento de um ano no calendário olímpico podem não ser fatores suficientemente importantes para afastar o polaco do derradeiro objetivo. E desta vez, garantidamente, não sucumbirá à tentação de pagar o transporte com a medalha.