Parfait Hakizimana. Fugir para escapar ao destino trágico da mãe
Há nomes que podem ter boa intenção mas que não fazem sentido quase desde o momento zero da vida de alguém. Para a família Hakizimana, dar o nome Parfait ao filho pode ter sido repleto de boas intenções mas a vida real começou por ser um murro no estômago atrás de murro no estômago.
Parfait Hakizimana nasceu a 3 de julho de 1988 no Burundi, na África Central, praticamente enclausurado entre o Ruanda, a norte, a República Democrática do Congo, a oeste-sul, e a Tanzânia, a este-sul. Em 1996, com apenas oito anos, a vida começou a ser imperfeita.
A guerra civil do Burundi tinha deslocado a família para o campo de deslocados e foi precisamente aí que Parfait viu a mãe ser baleada e assassinada. Parfait estava suficientemente perto, foi atingido no braço esquerdo e passou dois anos a receber cuidados médicos de qualidade duvidosa.
«Em África, os cuidados médicos não são grande coisa. O meu braço estava seriamente ferido e demorou muito tempo a sarar», lamentou.
Parfait tinha uma escolha pela frente: lamentar-se ou continuar a viver da melhor forma que conseguiu encontrar. Escolheu a segunda: «Para superar as dores da minha infância e da minha vida em geral, concentrei-me na escola e no desporto. Preferia fazer desporto porque era uma rede de segurança para mim, era onde me sentia melhor, ajudou-me a sentir mais feliz, a ter alegria, a alegria que não fui capaz de ter durante a minha infância».
O desporto mudou-lhe a vida. Parfait começou a praticar taekwondo com 16 anos como parte do processo de reabilitação para a lesão no braço e, uma vez mais, reconhece a importância do de algo que o ensinou a respeitar os outros e também a sentir-se orgulhoso e a encontrar uma felicidade que nem sabia que existia.
O problema? O problema é que os fantasmas do passado nunca chegaram a desaparecer completamente e em 2015, com 27 anos, decidiu fugir do Burundi com medo que pudesse vir a ter o mesmo destino da mãe. O país estava cada vez mais violento e Parfait foi viver para o Campo de Refugiados de Mahama no Ruanda.
«Tinha muito medo de vir a ser assassinado como a minha mãe, foi por isso que decidi sair do país. Foi muito difícil. Tive de sair sem a minha família. Não tinha amigos no Ruanda, fui completamente sozinho. E quanto lá cheguei a vida era muito complicada porque vivíamos em tendas e não tínhamos nada para beber ou comer», recordou.
Uma vez mais, e como sempre, o desporto veio em sua salvação. Parfait decidiu criar um clube de taekwondo no centro de refugiados e o sucesso foi praticamente instantâneo, com mais de 1000 interessados. «Queria apenas poder ajudar os outros: crianças, adultos, mulheres, raparigas. Queria ajudar as pessoas como eu. Fiz isto para encorajar as pessoas a não perderem a esperança. Os refugiados podem não ter muito mas o desporto ajuda-os a esquecerem os seus problemas.»
Parfait vai competir na categoria de -61 quilos de K44 do taekwondo. Não estará sozinho. Haverá pelo menos mil refugiados a viverem cada golpe com ele.