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É Desporto

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29 de Abril, 2020

Olga Korbut. Revolucionar a ginástica de coração partido

Especial Jogos Olímpicos (Munique-1972)

Rui Pedro Silva

Olga Korbut

Nunca a União Soviética tinha mostrado uma atleta com emoções tão fortes nos Jogos Olímpicos. Em Munique, em 1972, Olga Korbut chorou compulsivamente depois de uma sucessão de erros amadores nas barras paralelas assimétricas que a atiraram para fora do pódio. Mas depois, numa segunda vida, regressou para conquistar o mundo e revolucionar a modalidade.

Tinha 17 anos mas continuava a parecer a mesma rapariga de oito anos que começara a praticar ginástica na república soviética da Bielorrússia. Com metro e meio e cerca de 40 quilos, Korbut era como um boneco de peluche que os fãs da ginástica queriam ter em casa. E mais: tinha capacidade para fazer coisas até então impensáveis.

Candidata ao pódio no concurso completo, Korbut já tinha ajudado a União Soviética a chegar ao ouro na prova coletiva, mas estava destinada a… fracassar. No exercício das barras paralelas assimétricas, onde tinha dado tão bem conta de si na véspera, começou por falhar logo no primeiro elemento. «Foi o maior erro da minha vida. Não senti nada, estava em choque. Era um elemento que toda a gente conseguia fazer mas eu não me lembrava de nada. Quando terminei, pensei que tudo não tinha passado de um sonho».

Mas era real. Bastante real. E essa realidade foi como uma bofetada na cara quando chegou a pontuações dos juízes: 7,5 pontos e a perda imediata de qualquer hipótese de conquistar uma medalha. Korbut não foi a típica atleta soviética. E, ainda a poucos metros do aparelho, chorou. Chorou compulsivamente, com uma toalha a tapar a cara e confortada pela treinadora. Estava em choque. Tal como as adversárias e… o resto do mundo.

As pessoas sentiram a dor de Korbut e, acima de tudo, ficaram impressionadas com o facto de finalmente uma atlética soviética estar a demonstrar ter emoções. E foi assim, com o coração partido e a vontade de retribuir o carinho, que a ginasta recuperou e conquistou três medalhas individuais (ouro na trave e no solo e prata nas barras paralelas assimétricas).

Mais do que conquistar medalhas, Korbut demonstrou uma graciosidade única («Senti que tinha sete anos e estava a dançar no jardim») e uma tendência para romper com a rotina e introduzir elementos para os quais a modalidade ainda não estava preparada. «Alguém tinha de fazer uma revolução para mudar a ginástica. E eu quebrei o sistema», garantiu.