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É Desporto

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20 de Abril, 2019

O regresso do futebol feminino a Inglaterra

Rui Pedro Silva

Futebol feminino em Inglaterra em 1970

«Complaints having been made as to football being played by women, the Council feel impelled to express their strong opinion that the game of football is quite unsuitable for females and ought not to be encouraged.

 

Complaints have also been made as to the conditions under which some of these matches have been arranged and played, and the appropriation of receipts to other than charitable objects.

 

The Council are further of the opinion that an excessive proportion of the receipts are absorbed in expenses and an inadequate percentage devoted to charitable objects.

 

For these reasons the Council request clubs belonging to the association to refuse the use of their grounds for such matches.»

 

Um texto não são textos por isso desta vez optámos por deixar a versão original. Foi desta forma que, a 5 de dezembro de 1921, a Federação Inglesa de Futebol (FA) decidiu proibir o futebol feminino no país.

 

Os jogos de equipas como a Dick, Kerr estavam em claro ascendente, com milhares de adeptos nas bancadas, mas a decisão matou o crescimento do futebol feminino inglês. Algumas equipas resistiram e continuaram a jogar, especialmente em digressões, mas deixou de haver capacidade para criar uma verdadeira onda de interesse que permitisse continuar a apelar às crianças e garantisse a renovação das praticantes década após década.

 

Um pouco por todo o lado começaram a aparecer especialistas a validar a decisão. «O futebol é um desporto demasiado físico para a estrutura física de uma mulher», disse uma médica. Um tenista daquela época, Eustace Miles, foi mais longe e disse que «o pontapé é um movimento demasiado brusco para ser feito por uma mulher.   

 

Por muito que as equipas tenham querido resistir, a falta de oportunidades fez com que definhassem, uma após a outra. A mítica equipa de Dick, Kerr, entretanto renomeada Preston Ladies, não foi exceção e decidiu pôr um ponto final em 1965, quando não era mais do que um espelho do que fora outrora e sem capacidade para olhar para um futuro diferente.

 

Mundial foi um ponto de partida

Rainha Isabel II entregou o troféu a Bobby Moore

O título de Inglaterra em 1966, a jogar em Wembley, abriu portas para o futebol no Reino Unido que há muito estavam fechadas. A logística e as infraestruturas começaram a ser outras, havia mais interesse e possibilidade de encontrar campos alternativos aos dos membros da FA, e em 1969 foi criada a Federação de Futebol Feminino.

 

O novo organismo garantiu que acompanhava as tendências que se iam verificando um pouco por todo o mundo e, dois anos depois, a Federação Inglesa de Futebol percebeu que não fazia sentido continuar a prolongar o ridículo da decisão de 1921, especialmente depois de pressionada pela UEFA. Por isso, no ano do cinquentenário da medida, os responsáveis levantaram a suspensão e permitiram aos seus associados voltar a organizar jogos de mulheres.

 

O atraso foi fatal. De país na vanguarda do futebol feminino, a Inglaterra tornou-se num cavalo atrás do prejuízo. O sucesso que a equipa de Lily Parr e companhia alcançou após a Grande Guerra nunca foi replicado e as seleções não mais conseguiram voltar a ombrear contra as melhores equipas da Europa.

 

Hoje, praticamente 100 anos depois da proibição inicial, a Inglaterra continua a recuperar terreno. Há cerca de um ano chegou a ocupar o segundo lugar do ranking da FIFA e em 2015 conseguiu a melhor participação na fase final de um Mundial: terceiro lugar. Nos Europeus da era moderna, excluindo a edição inaugural de 1984, já foi a uma final (2009) e marcou presença em três meias-finais (1987, 1995 e 2017).