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É Desporto

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30 de Junho, 2017

O que é feito do nosso Parma?

Rui Pedro Silva

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Esta é a história de um grande que nunca o foi, com quatro canecos europeus nos idos anos 90, que caiu para a quarta divisão. Os cofres estavam cheios de pó e lengalengas mal contadas. Em duas épocas, garantiu a subida à Serie B. Com outro nome e comprado por chineses, o Parma Calcio 1913 procura reinventar-se. Quem sabe um dia os Brolin, Asprilla e Stoichkov voltem para vestir aquele pijama azul e amarelo divino.

 

A história aqui tão perto...

 

São dezenas as conversas que vão dar a este gigante do pijama azul e amarelo. Ora porque Sérgio Conceição é o novo treinador do FC Porto e jogou lá; ora porque Buffon começou a dar lá nas vistas e está quase a ganhar a Liga dos Campeões; ora porque o malandro Verón é o presidente-jogador do Estudiantes; ora porque uma das camisolas mais bonitas de sempre morava na cave da família Schmeichel (Nakata 8), em Cascais. Ou então simplesmente porque o Crespo falou. Ó, Hernán, que saudades do avançado dos anos 90...

 

Respondendo à pergunta do título, para meter o patife do suspense no bolso: o Parma subiu. Outra vez. Dois anos, duas subidas de divisão. Tudo o que os dementes da década de 90 sonham, certo? Aquele clube que foi grande sem o ser. Aquele que atraiu craques que roubam suspiros por aí: Asprilla, Brolin, Stoichkov, Thuram, Zola... Claro que também houve Fernando Couto, Chiesa, Mussi, Apolloni, Cannavaro, Dino Baggio, Sensini e Gilardino. 

 

A religião já não é a mesma. O charme, idem. Os senhores que tocavam como poucos na menina bonita das curvas perfeitas desapareceram. Mas há um herói aqui no meio. Trata-se de Alessandro Lucarelli, um central nascido em Livorno, em 1977. Isso, 39 balas.

 

Há dois anos, o pó enchia os cofres do clube, que fora vendido mais do que uma vez por um euro. Nem dinheiro havia para contratar policiamento para os jogos. Houve protestos dos adeptos, que fecharam o estádio a cadeado, gritando o roubo, e viu-se pelo menos um presidente a ser detido. Colocaram-se à venda, imagine-se, troféus do clube. 

 

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Lucarelli, o capitão, foi um dos pilares da decência e honra. Pediu respeito pelo Parma. Prometeu até levar os colegas no seu carro, se necessário. Na desgraça, não abandonou. Na doença, amou. Levou a cidade inteira no coração, tapado pelo escudo da cruz e das listas e seguiu para a viagem ao inferno com o "novo" clube, o Parma Calcio 1913. O orgulho estava salpicado por sangue e suor. Agora, na próxima época, jogará na Serie B. Sim, o jovem renovou pelo clube que joga no Ennio Tardini e que venceu quatro canecos europeus nos idos 90.

 

A épica recuperação foi consumada há 12 dias em Florença, no Artemio Franchi, o palco da Fiorentina. Crespo, que há dois anos enquanto treinador dos juniores se queixou que nem água havia para os miúdos tomarem banho, estava na bancada. O Parma venceu o Alessandria por 2-0, com golos de Scavone e Nocciolini. E fez-se a festa.

 

 

 

Poucas horas depois, o clube anunciou que passava a ser propriedade por um grupo de investimento chinês (60%), à imagem de AC Milan e Inter. Hernán Crespo, que conduziu a operação, foi nomeado vice-presidente do clube. Basta ir ver o Twitter dele para se constatar como anda encantado com os orientes.

 

É óbvio que todos salivamos pelo regresso à Serie A. Só tem de enganar Brescia, Bari, Perugia, Frosinone e os despromovidos Empoli, Palermo e Pescara. É osso duro de roer, mas isto é o Parma. E até para um adepto tresloucado da Fiorentina há poucas coisas mais sedutoras que o Parma voltar...

HTS