O ex-futebolista que venceu o Óscar de melhor argumento adaptado em 1960
Chamava-se Neil Paterson e tinha sido uma das figuras do Dundee United durante a década de 30. Nunca quis ser profissional mas isso não o impediu de capitanear a equipa escocesa. Depois veio a guerra, a carreira como jornalista e… o Óscar de melhor argumento adaptado por Room at the Top. Ben-Hur tinha tido 12 nomeações… e só não ganhou este.
Antes de Kobe houve Neil…
Kobe Bryant é uma das histórias dos Óscares deste ano. O antigo basquetebolista, que venceu cinco títulos na NBA e é visto como um dos melhores de sempre, está a esforçar-se para dar cartas na arte de contar histórias e foi distinguido com o prémio para melhor curta de animação com «Dear Basketball»
Antes, há muitos anos, houve outro desportista a dar cartas em Hollywood. Estávamos a 4 de abril de 1960 e Ben-Hur preparava-se para fazer história na 32.ª edição dos Óscares. Com 12 nomeações, o filme tinha batido todos os recordes e estava apenas no início. Anúncio após anúncio, o nome vencedor era sempre o mesmo. Ben-Hur, Ben-Hur, Ben-Hur, Ben-Hur, Ben-Hur, Ben-Hur, Ben-Hur, Ben-Hur, Ben-Hur, Ben-Hur, Ben-Hur.
Ben-Hur só não conseguiu vencer um Óscar, o de melhor argumento adaptado. Essa distinção estava guardada para Neil Paterson e Room at The Top.
Quem é Neil Paterson?
James Edmund Neil Paterson nasceu na Escócia, a 31 de dezembro de 1915. Como qualquer outra criança começou a jogar futebol, e tinha jeito. Quando chegou à universidade, apesar de nunca ter deixado o estatuto de amador, mostrou que tinha talento para atuar entre os melhores e foi saltando de equipa até chegar ao Dundee United.
Foi apenas uma época, em 1936/37, mas foi especial. Não apenas pelos nove golos que marcou em 26 jogos no segundo escalão escocês, mas por ter sido eleito o capitão da equipa. Sim, havia jogadores que eram considerados profissionais, ao contrário de Neil, mas a escolha recaiu sobre ele. Mais tarde, confessou mesmo que foi esse o momento mais feliz da sua vida… e não o Óscar conquistado.
Neil Paterson não foi mais porque não quis. Gostava de jogar futebol, tinha talento e sentia-se honrado por ser capitão mas respondeu de forma negativa ao apelo do clube para continuar de forma profissional. Não era esse o horizonte que tinha desenhado para a sua vida.
A paixão pela escrita era mais forte e no final dessa época decidiu trocar o Dundee United pelo jornalismo… de desporto. Mais uma vez, não ficou por lá muito tempo, mas desta vez não teve responsabilidade. O estalar da Segunda Guerra Mundial alterou a dinâmica do país e Neil Paterson teve de cumprir o seu dever cívico e passou vários meses como caça-minas.
Dedicação à escrita
O regresso da paz promoveu também o tempo necessário para que Neil Paterson se pudesse dedicar a tempo inteiro à sua paixão. Era velho para jogar futebol e escrever sobre desporto não lhe dava o mesmo prazer: a partir do final da década de 40, o trilho mostrava um talentoso escritor de pequenos contos.
Começou a ganhar prémios, a ver as suas obras traduzidas em várias línguas e a assumir-se como um dos mais geniais escritores escoceses. Com o decorrer da década de 50 descobriu outra praia: escrever e adaptar argumentos para cinema.
O momento alto chegou com a adaptação do romance Room at the Top de John Braine, em 1959. Com um orçamento a rondar os 300 mil dólares, alcançou uma receita nas bilheteiras de 2,4 milhões e recebeu seis nomeações para os Óscares.
Só venceu dois: o de melhor atriz principal (Simone Signoret) e… o de melhor argumento adaptado (Neil Paterson). Trinta e três anos depois de andar a marcar golos pelos relvados escoceses, um antigo futebolista foi premiado por Hollywood. Um «soccer player», vá.