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É Desporto

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01 de Novembro, 2019

O Dínamo Dresden como denominador comum

Rui Pedro Silva

Matthias Sammer era a figura do Dínamo Dresden

Ganharam o último título antes da queda do Muro de Berlim e o primeiro depois da noite histórica. A carga simbólica na penúltima Oberliga da história da RDA foi tão grande que a subida ao primeiro lugar na época 1989/1990 se deu precisamente na véspera da queda.

O Dínamo Dresden está num limbo histórico quando se fala do passado da Oberliga. Que equipa venceu mais campeonatos na RDA? O Dínamo Berlim, com dez. Qual foi a primeira equipa a vencer? O SG Planitz, e 1958. E a última? O Hansa Rostock, em 1991. Qual foi a única equipa a vencer uma competição europeia de clubes? O Magdeburgo, em 1974. E que outras equipas conseguiram atingir uma final? O Carl Zeiss Jena, em 1981, e o Lokomotive Leipzig, em 1987.

Como podem confirmar, a equipa de Dresden não está propriamente salvaguardada em perguntas de cultura desportiva sobre o futebol na República Democrática da Alemanha. Contudo, é legítimo – e talvez até recomendável – dizer que foi a melhor equipa.

Vamos começar pelas estatísticas. Não, não foi a equipa com mais títulos mas terminou com oito, a apenas dois do Dínamo Berlim. E ninguém se aproxima sequer do número acumulado de presenças no pódio: oito vezes primeiro, oito vezes segundo e seis vezes terceiro num total de 22 ocasiões. A segunda melhor? O Carl Zeiss Jena, com 17.

A ausência de finais europeias é um acaso infeliz também. Entre 1968 e 1991, o clube de Dresden participou em competições da UEFA em 20 temporadas diferentes – nenhuma equipa da RDA se aproxima sequer. Durante estas aventuras, alcançou as meias-finais uma vez (Taça UEFA em 1989, caindo frente ao Estugarda) e os quartos de final em sete ocasiões.

Há outro fator que também é preciso ter em conta: o caráter da hegemonia do Dínamo Berlim, que conquistou dez títulos consecutivos entre 1979 e 1988. Quando a equipa da capital começou a ganhar, alegadamente impulsionada pela Stasi de Erich Mielke, era o Dínamo Dresden que estava na dianteira do futebol da Alemanha Oriental, com três títulos consecutivos. Durante o decacampeonato do adversário, terminou na segunda posição seis vezes. Como teria sido se não houve uma simpatia generalizada das autoridades e das arbitragens com o Dínamo Berlim?

O certo é que foi o Dínamo Dresden a regressar ao topo do futebol da RDA quando a teia de poder do maior rival começou a cair. Em 1988/1989 promoveu a quebra da hegemonia e terminou com oito pontos de vantagem sobre os adversários. Depois, na temporada seguinte, o título tornou-se o menos importante, por culpa da queda do Muro quando a época estava ainda na primeira metade.

O Muro de Berlim caiu a 9 de novembro e a esmagadora maioria das equipas da Oberliga disputaram a décima jornada na véspera. O jogo grande foi disputado entre o Dínamo Dresden, segundo classificado no campeonato com 14 pontos, e o Magdeburgo, líder com 15.

Naquela quarta-feira de outono, às 18 da tarde, o Dínamo Dresden não vacilou a jogar em casa, perante mais de 30 mil espetadores, e saltou para a liderança graças a uma vitória por 3-1. O inevitável goleador Torsten Gütschow bisou e Matthias Sammer também marcou para a equipa de Eduard Geyer que era, simultaneamente, o selecionador nacional.

Pouco mais de 24 horas depois, fez-se história. E o Dínamo Dresden era rei e senhor do futebol da RDA. Era o campeão em título, estava no primeiro lugar e bem lançado para revalidar o troféu. 

A reta final do campeonato foi espetacular e à entrada para a última jornada o Dínamo Dresden, o Magdeburgo e o Chemnitzer (novo nome do Karl Marx Stadt) estavam todos empatados com 34 pontos... e havia um duelo entre os dois últimos. A luta pelo título ia ser até ao limite e quando Spranger marcou para o Chemnitzer no início da segunda parte, o cenário era perfeito, até porque o Dínamo Dresden estava a perder em casa com o FC Lok Leipzig.

Foi sol de pouca dura. Ulf Kirsten empatou aos 54 minutos, e o inevitável Gütschow (81') e Ratke (90') marcaram os golos que garantiram o título. À semelhança dos adversários, ia perder os seus maiores talentos, como Sammer e Kirsten, para clubes da RFA, mas terminaria com um feito especial: ser o último campeão antes da queda e o primeiro depois, em 1989/1990.