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É Desporto

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19 de Junho, 2019

O dia em que Vinokourov surpreendeu o pelotão em Paris

Rui Pedro Silva

Vinokourov fez a festa em Paris

A chegada aos Campos Elísios no último dia do Tour é dominada pelos sprinters mas já houve seis fugas a vingar no momento decisivo. Nos últimos 25 anos, Alexander Vinokourov foi o único a conseguir surpreender o pelotão e, ao mesmo tempo, a garantir a subida ao quinto lugar na classificação geral. Aconteceu a 23 de julho de 2005.

 

O Tour pode ser uma prova centenária mas a tradição de terminar as três semanas de corrida só começou em 1975, depois de a organização da prova ter recebido o aval do presidente francês, Giscard d’Estaing. Novidade na altura, não foi de estranhar que em três das primeiras cinco edições neste formato o vencedor tenha cruzado a meta em fuga.

 

Depois, a história mudou. Hoje, olhando para o palmarés de vencedores na mais famosa avenida francesa, percebe-se o coroar de inúmeros sprinters. Há aqueles que nunca conseguiram superar as três semanas ou, se o conseguiram, chegaram a Paris em modo zombie, e outros que veem numa vitória em Paris a possibilidade de alcançar o momento mais inesquecivel da carreira.

 

O desfile de nomes é impressionante. Mark Cavendish venceu quatro anos seguidos, Marcel Kittel e André Greipel bisaram e, continuando no século XXI, houve ainda triunfos de nomes como Jan Svorada, Robbie McEwen, Tom Boonen, Thor Hushovd e Alexander Kristoff. Figuras como Mario Cipollini e Erik Zabel (e este bem que tentou) estão fora deste lote, o que só atesta a dificuldade de conquistar algo que está na mente de todos.

Vinokourov também festejou o primeiro lugar na T-Mobile na prova

À medida que a avenida com vista para o Arco do Triunfo se tornou o olimpo dos sprinters, a possibilidade de sucesso de uma fuga diminuiu drasticamente. Depois daquele equilíbrio inicial, houve apenas dois casos a reportar: Jeff Pierce em 1987 e Eddy Seigneur em 1994.

 

Nos últimos 25 anos, porém, o espetro ficou cada vez mais reduzido. Muitos tentaram, só um não fracassou. Para conseguir fugir ao pelotão e garantir um triunfo histórico é preciso uma força de vontade – e uma saúde muscular – férrea e Alexander Vinokourov fez questão de demonstrar que as suas habilidades de rolador, com muita potência, seriam um enorme trunfo. Foi assim que conseguiu o título olímpico na prova de estrada em Londres-2012 e que, sete anos antes, levou a melhor sobre toda a concorrência em Paris.

 

A edição de 2005 ficou marcada pelo suposto sétimo título de Lance Armstrong. Ivan Basso e Jan Ulrich tinham o pódio confirmado e à primeira vista não se esperavam alterações nos primeiros dez classificados. Havia, contudo, margem para surpresas. À entrada para a derradeira etapa, o dinamarquês Michael Rasmussen era sétimo a seis segundos de Vinokourov que, por sua vez, estava a apenas dois segundos de Levi Leipheimer.

 

Naquela manhã, o ciclista cazaque da T-Mobile acordou com um desígnio: subir à quinta posição. E estava disposto a tudo para consegui-lo. Atacou no primeiro de dois sprints intermédios e conseguiu os dois segundos necessários para anular a diferença para Leipheimer. Ou quase. O tempo registado nos contra-relógios continuava a dar uma vantagem ínfima, na ordem dos milésimos de segundo, ao ciclista norte-americano da Gerolsteiner.

 

Era preciso mais. E Vinokourov sabia perfeitamente o quê. Como é habitual, os ataques durante as voltas ao circuito improvisado de Paris proliferaram mas nunca se pensou que teriam sucesso. Até que, nos últimos três quilómetros, o cazaque saiu do pelotão para responder à iniciativa de Laurent Brochard.

 

O francês perdeu as forças à entrada do último quilómetro e, nesta altura, foi Bradley McGee, que entretanto tinha alcançado a dupla, a saltar para a dianteira. Vinokourov reagiu, atacou nos últimos metros e beneficiou de um pelotão atónito com o que tinha acontecido, para cruzar a meta no primeiro lugar e garantir 20 segundos de bonificação decisivos para terminar no quinto posto da classificação geral.

 

«Foi uma vitória feita de coragem e garra. Dei tudo nos últimos quilómetros e só acreditei que era mesmo possível quando cruzei a meta. É inacreditável, magnífico. Não tenho palavras para isto», disse no final.