O dia em que um árbitro uruguaio perdoou a Argentina... para a castigar ainda mais
Há 24 anos a Colômbia deu uma das lições de futebol mais memoráveis deste desporto, com Valderrama, Asprilla, Córdoba e Rincón em destaque. Com as almas incendiadas pelas palavras de Diego Maradona, os cafeteros golearam os argentinos no Monumental, em Buenos Aires, rumo ao Mundial-1994. Cinco, zero. O árbitro uruguaio até perdoou um vermelho direto a Simeone para a humilhação ser ainda maior.
Uma goleada para a história
Domingo, 5 de setembro de 1993. Ninguém na Argentina aprendeu a esquecer este dia. Muito menos Batistuta, que chutou de todo o lado, com o pé direito e com o esquerdo. Nada, Córdoba parou tudo. Aqueles colombianos que entraram naquela cancha de Buenos Aires tinham gravadas na alma a ferro e fogo as palavras de Diego Maradona, que, com aquele sorriso maradoniano, dizia que a história ditava o destino: «A Argentina está em cima, a Colômbia em baixo. E assim está tudo bem.»
Os cafeteros agarraram-se a essa fogueira em forma de pensamento. Ou seja, um homem como Valderrama não só tinha de transportar aquela farta e irresistível cabeleira na cabeça, como ainda teria de andar com Maradona a morder-lhe a mente, para galvanizar os colegas e o pé direito genial.
O Monumental recebeu mais de 50 mil adeptos para aquele duelo entre as selecções orientadas por Alfio Basile e Francisco Maturana. Diego Simeone usava a 10, Batistuta vestia a camisola 9 e Redondo carregava a 5, a típica do trinco na Argentina. Do outro lado estavam senhores como Rincón, Valderrama, Asprilla e Valencia. Era um ataque potente. O jogo seria tão perfeito para os que vinham de longe que o selecionador colombiano nem mexeria na equipa durante a partida...
O desastre daqueles que vestiam de azul-bonito, branco e preto começou aos 41 minutos, com um golo de Rincón. O avançado do Palmeiras bisaria, tal como Faustino Asprilla, que já virava a Serie A do avesso com a sua pedalada protegida pela camisola-pijama do Parma. Um dos golos de Faustino, o quarto da Colômbia, foi belo, belo, como a colorida Quebrada de Humahuaca, em Jujuy, no norte da Argentina. Valencia, o avançado do Bayern Munique que tinha a subtil alcunha "el Tren" (o Comboio), fechou a contagem aos 84 minutos.
A solidariedade encapotada
Se aquele resultado enchia de vergonha qualquer argentino e deixava corado Diego Maradona, o que se passou a poucos minutos dos 90 deixa essa ferida ainda mais profunda. Aos 86 minutos, o "simpático" Diego Simeone, hoje treinador do Atlético Madrid, saltou à bola com "el Tren" e deu-lhe uma senhora cotovelada, que era digna de cartão vermelho direto.
Quando Valencia caiu, já a boca vinha afogada em sangue, conta o livro do jornalista Mauricio Silva, «El 5-0: la increíble crónica del partido que cambió para siempre la historia del fútbol colombiano», aqui citado pela BBC.
Enquanto Luis Carlos Perea e Wilson Pérez pressionaram o árbitro para mostrar o vermelho a "El Cholo", Barrabás suspirou um segredo ao uruguaio do apito: «Não o mande embora, senhor juiz. Não o tire do jogo, porque depois dizem que lhes ganhámos porque só tinham dez. Não nos faça isso», implorou. Ernesto Filippi lá decidiu esquecer-se do vermelho dentro do bolso e rematou, mais certeiro do que Batistuta e companhia, contra o coração dos da casa: «Não o faço, mas marquem outro golo a esses filhos da puta».
A Colômbia não marcou mais, mas o mundo inteiro ficou a saber quem era Valderrama, Asprilla, Córdoba e os outros do país da Cumbia. Vinte e quatro anos depois, esse chocolate com sabor a café ainda é lembrado. É imortal. Afinal, a Argentina também caía. E Diego, qual anjo-demónio motivador das tropas alheias, também se equivocava. Mas o canhoto mais especial da história também sabia descer à terra e, da bancada, acabaria por aplaudir os colombianos.
HTS