O dia em que a audácia japonesa foi recompensada
Foi a maior surpresa do Mundial-2015 e marcou o arranque de uma prova sensacional. A África do Sul vacilou perante o Japão e acabou derrotada nos minutos finais pela estratégia ousada da seleção orientada por Eddie Jones. O desfecho não teve um resultado prático nos apurados para os quartos de final mas entrou para a lista dos jogos mais memoráveis em fases finais.
Brighton, 19 de setembro de 2015. A fase de grupos tinha começado na véspera mas não houve espaço para os favoritos se acomodarem. O dia arrancou com a vitória da Geórgia sobre o Tonga e a comunidade do râguebi estava preparada para promover este desfecho a grande surpresa do dia, mas o melhor estava guardado para mais tarde. A África do Sul entrou em prova como crónica candidata ao título mas não conseguiu descolar de um Japão metodicamente organizado pelo selecionador Eddie Jones e comandado dentro de campo pelo capitão Michael Leitch.
A estratégia japonesa pode ser descrita de forma muito redutora e humorística: se não os podes vencer, foge deles. A ideia era mesmo esta: se os Springboks tinham um pack mais forte e eram, na generalidade, implacáveis no confronto direto, a solução passaria por fazer a bola circular ao máximo, evitando as placagens e dinamitando a resistência adversária.
O marcador esteve sempre equilibrado, mas com a África do Sul por cima. Já dentro dos últimos dois minutos, o árbitro francês Jérôme Garcès assinalou uma penalidade que daria a oportunidade ao Japão de garantir o empate e selar um resultado histórico. Ayumu Goromaru estava com o pé quente (convertera dois ensaios e marcara cinco penalidades) mas a equipa nipónica queria mais. Queria a vitória histórica.
A jogar com menos um, fruto do amarelo mostrado a Coenie Oosterhuizen, a África do Sul recuou para os seus 22 metros e tentou bloquear todos os caminhos que iam dar ao ensaio. Os Springboks resistiram, resistiram, resistiram e, com quatro minutos jogados depois dos 80, vacilaram, permitindo a Kame Esketh cruzar a linha de ensaio junto ao lado direito da defesa.
O resultado histórico estava garantido: 34-32 para o Japão. Até então, a equipa asiática tinha conseguido apenas uma vitória em fases finais mas, em vésperas de organizar um Mundial (2019), este era o tónico perfeito para assinalar uma nova era.
Eddie Jones foi visto como o maior responsável deste feito, sobretudo depois de ter aparecido convicto na conferência de imprensa de antevisão do jogo referindo que aquele poderia ser um dia para recordar no râguebi japonês.
A vitória histórica acabou por não ter uma consequência prática no Mundial-2015. À imagem da África do Sul e da Escócia, o Japão terminou o grupo B com três vitórias e uma derrota. Pontualmente, porém, a história foi radicalmente diferente graças aos pontos de bónus, uma vez que os Cherry Blossoms foram relegados para o terceiro lugar (12 pontos), atrás da Escócia (14) e África do Sul (16).