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É Desporto

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10 de Fevereiro, 2017

Nnamdi Azikiwe. Combater os nazis foi cavalo de tróia

Rui Pedro Silva

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Luta pela independência da Nigéria fez com que organizasse jogos pelo país, autorizados pelos britânicos, para vender obrigações que ajudassem a financiar a II Guerra na Europa. Mas não perdia uma oportunidade para discursar contra a ocupação colonialista. 

 

Futebol une o povo

 

Nnamdi Azikiwe foi o primeiro presidente da Nigéria, em 1963. Estava a chegar aos 60 anos e para trás tinha uma dura luta pela independência do país africano, colonizado pelo Reino Unido. O caminho foi sempre longo, passou pela II Guerra Mundial, mas todos os momentos foram pensados ao pormenor. O maior trunfo foi a paixão dos nigerianos pelo futebol.

 

Zik, como era conhecido, não era apenas mais um nigeriano oprimido pelos colonos. Queria mais. Sabia que o processo nunca seria fácil e apostou na educação. Foi para os Estados Unidos na década de 30 para completar o ensino universitário e voltou diferente, mais capaz, mais estratégico, mais inteligente.

 

No regresso a África, começou por trabalhar como jornalista, em 1934. Quatro anos depois, no entanto, decidiu formar uma equipa de futebol em Lagos, o Zik’s Athletic Club. O primeiro objetivo passou por demonstrar que se podia promover um futebol sem racismo mas, com o deflagrar na guerra na Europa, sentiu que havia uma oportunidade que não podia desperdiçar.

 

Entre 1942 e 1943, nos anos mais quentes da guerra contra a Alemanha nazi, Zik promoveu várias digressões pela Nigéria, organizando jogos de futebol contra as equipas locais. A bandeira era sempre a mesma: ajudar a vender as tão necessárias obrigações de guerra para que os britânicos não ficassem sem fundos.

 

Mas no fundo era mais, muito mais. Zik sabia que o futebol era a forma mais eficaz para lutar contra as autoridades coloniais. Dessa forma, usou-o para aumentar a sensibilidade no tema da independência, discursando após os jogos que chegavam a reunir 20 mil espetadores e apontando a hipocrisia de um país colonizador que lutava contra a Alemanha.

 

Zik ansiava pela democracia e por reformas estruturais. Não houve canto de terra da Nigéria por onde não tivesse andado. Reunia donativos para os britânicos com uma mão mas apontava-lhes o dedo com a outra. «Se estamos todos numa guerra contra a Alemanha Nazi e contra a sua ocupação e políticas discriminatórias na Europa, o que estão a fazer aqui ainda?», perguntava aos diplomatas britânicos.

 

Esforço conjunto

 

O futebol foi visto como o trunfo perfeito para apelar ao sentimento de unidade e identidade entre nigerianos de várias regiões mas vinha acompanhado pelo trabalho executado pelo jornal que ajudou a fundar, o The Pilot.

 

O jornal prolongava a mensagem e ajudava a enquadrar o futebol como um elemento pacificador e de união. Em 1949, quatro depois da guerra, organizou uma digressão ao Reino Unido e voltou a explorar a modalidade.

 

A qualidade dos nigerianos servia de arma de arremesso. Se, numa fase preliminar, o futebol tinha sido utilizado como prova da superioridade cultural dos colonialistas, o equilíbrio atual não mais era de que um sinal da decadência imperial e incapacidade para governar.

 

Na mesma estratégia, o The Pilot publicou, em 1953, um texto satírico sobre a vitória da Nigéria sobre a Inglaterra por 10-0 na chamada Taça da Liberdade.

 

O sistema estava a ruir e Zik continuava a assumir um papel preponderante. A luta durou mais de vinte anos mas foi ganha. E o futebol até beneficiou disso primeiro, com o reconhecimento da seleção nigeriana pela FIFA em 1959, semanas antes de a independência ter sido declarada.