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É Desporto

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27 de Março, 2020

Nina Romashkova. A primeira campeã olímpica soviética

Especial Jogos Olímpicos (Helsínquia-1952)

Rui Pedro Silva

Nina Romashkova

Lançadora do disco não fazia ideia mas a vencer a prova nos Jogos Olímpicos de Helsínquia, em 1952, estava a escrever o primeiro capítulo brilhante de uma das maiores potências de sempre da prova.

A estatística é esmagadora. A União Soviética conquistou um total de 1006 medalhas em edições dos Jogos Olímpicos de Verão e 393 delas foram de ouro. Os atletas subiram ao lugar mais alto do pódio num total de 22 modalidades diferentes, da ginástica ao tiro com arco, mas foi no atletismo que se escreveu a primeira página. Por causa de Nina Romashkova.

Os Jogos Olímpicos de Helsínquia marcaram a primeira participação da União Soviética. A comitiva de 295 atletas prometia muitas medalhas. E cumpriu, com 22 de ouro, 30 de prata e 19 de bronze. O atletismo garantiu 17 medalhas mas apenas dois títulos, ambos no feminino, ambos em lançamentos.

Galina Zybina pode ter batido o recorde do mundo no lançamento do peso, com uma marca de 15,28 metros, mas foi Nina Romashkova que inaugurou as conquistas soviéticas no disco.

Interessada no atletismo desde 1947, encontrou no lançamento do disco a sua maior paixão. A progressão foi meteórica e tornou-se rapidamente a crónica campeã nacional. Quando participou nos Jogos Olímpicos, a medalha era uma expectativa forte mas estava longe de imaginar que iria figurar na história desta maneira.

Na qualificação, lançou 45,05 metros e ultrapassou com muita facilidade o mínimo de 36 exigido para atingir a final. Depois, com medalhas em jogo, a soviética brilhou numa competição… fratricida. O pódio foi todo para atletas da União Soviética: Nina Dumbadze foi bronze com 46,29 metros, Yelisaveta Bagriantseva assegurou a prata com 47,08 metros e Nina Romashkova estabeleceu um novo recorde olímpico de 51,42 metros para garantir o ansiado ouro.

«Só depois de ter sentido aquele círculo dourado pesado na minha mão é que me apercebi do que se tinha passado. Sou a primeira campeã olímpica soviética. A primeira recordista da 15.ª olimpíada. As lágrimas caíam pelos meus olhos, estava tão feliz», recordou mais tarde.

A carreira olímpica de Romashkova prosseguiu nas duas edições seguintes, conquistando o bronze em Melbourne-1956 e o ouro em Roma-1960. Pelo meio, em Londres, a caminho de um meeting, foi apanhada a roubar chapéus num estabelecimento comercial e chamada a julgamento.

De um dia para o outro, e com a conivência da embaixada soviética, Romashkova desapareceu e esteve seis semanas sem dar notícias. O conflito diplomático entre os dois países alastrou-se a uma bailarina do teatro Bolshoi, que se recusou a visitar Londres com medo de ser perseguida, e o Kremlin chamou o embaixador britânico para uma reunião. Do outro lado, os ingleses emitiram um mandado de detenção para Romashkova.

Quando finalmente apareceu, percebeu-se que tinha passado todas aquelas semanas na embaixada soviética. A atleta compareceu no tribunal, como estava previsto, mas foi libertada após pagamento de uma multa.