Nikolai Andrianov. A despedida olímpica perfeita
Quando se fala em antecessores de Michael Phelps, Mark Spitz é o primeiro nome que surge. O nadador norte-americano conquistou sete medalhas de ouro nos Jogos de Munique, em 1972, e o grande objetivo de Phelps sempre foi quebrar essa marca, o que acabou por fazer em Pequim, em 2008.
O número de Spitz, em 1972, impunha respeito, mas os jogos também ficaram marcados por outro momento: a estreia do ginasta russo Nikolai Andrianov. Aos 19 anos, a União Soviética apresentava um novo prodígio. A estreia foi modesta (ouro no solo, prata em equipas e bronze no cavalo), mas deixou a promessa. Quatro anos depois, em Montreal, ia arrasar. Nunca teve sete medalhas de ouro, como Spitz, nem oito, como Phelps, mas somou quatro de ouro (concurso completo, solo, argolas e cavalo), duas de prata (equipas e barra paralelas) e uma de bronze (cavalo com arções).
Com dez medalhas olímpicas, Andrianov tornou-se uma referência olímpica na União Soviética. Por isso, coube-lhe a honra de fazer o juramento olímpico em Moscovo, em 1980. Oito anos depois da estreia olímpica, era já uma figura incontornável no desporto mundial, longe daquilo que foi enquanto criança.
Natural de Vladimir, uma cidade a 200 quilómetros de Moscovo, Andrianov teve uma infância delicada. Abandonado pelo pai e vivendo no limiar da pobreza, ganhou uma vida assim que aceitou um convite de um amigo para ir ao ginásio. «Este desporto salvou-me a vida», confidenciou.
Moscovo foi, por isso mesmo, um lugar para agradecer e mostrar que era possível passar de um destino traçado pela pobreza a uma vida de feitos reconhecidos. Juntou mais cinco medalhas (duas de ouro, duas de prata e uma de bronze) e assumiu-se como o segundo atleta mais medalhado de sempre em Jogos Olímpicos.
Melhor que ele só a compatriota Larisa Latynina, também ginasta, que entre 1956 e 1964 ganhou 18 medalhas (nove de ouro, cinco de prata e quatro de bronze). Entre os atletas masculinos, o recorde de Andrianov manteve-se inquebrável até Phelps atingir a 16.ª medalha em Pequim, em 2008.
Nessa altura, com 55 anos, Andrianov tinha um passado a ajudar outros ginastas. Começou em Vladimir, em 1980, indo depois para o Japão. Lá, foi responsável pelo crescimento de Naoya Tsukahara, campeão olímpico em 2004 por equipas.
Habituado a saltar entre colchões, argolas, cavalos ou barras, Andrianov chegou ao fim da linha impossibilitado de fazer tudo o que mais gostava. A atrofia sistémica múltipla deixou-o sem falar e sem se mexer, acabando por morrer em 2011. Para trás ficaram as imagens de saltos e manobras que fizeram dele um campeão que venceu ainda 12 medalhas em Mundiais e 18 em Europeus.