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É Desporto

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14 de Janeiro, 2020

Myer Prinstein. A potência dos saltos que deu nas vistas no… boxe

Especial Jogos Olímpicos (Paris-1900)

Rui Pedro Silva

Myer Prinstein

Estava impedido pela sua universidade de competir ao domingo por motivos religiosos e pensou que tinha chegado a acordo com os principais adversários na véspera da final do salto em comprimento. Alvin Kraenzlein furou o combinado, roubou-lhe o título por um centímetro e acabou com um bónus: um murro no nariz.

Estudava Direito na Universidade de Syracuse, em Nova Iorque, e era uma das maiores potências do atletismo nos Estados Unidos. O salto em comprimento e o triplo salto eram as suas especialidades mas, como capitão da equipa universitária, também competia no salto com vara, salto em altura, e nos 60, 100 e 400 metros.

O desporto universitário nos Estados Unidos estava em franco desenvolvimento e as rivalidades surgiam de forma natural. Uma delas – talvez a mais famosa daquele período – opunha precisamente Myer Prinstein a Alvin Kraenzlein, da Universidade da Pensilvânia.

Quando os Jogos Olímpicos de Paris chegaram, os dois foram eleitos, sem grande surpresa, para representar os Estados Unidos. Não havia dúvidas de que os americanos eram os maiores candidatos a todos os títulos no atletismo, quatro anos depois de terem perdido apenas nos 800 metros, nos 1500 metros e na maratona.

Havia um problema, contudo, que não estavam à espera: uma final marcada para domingo. Myer Prinstein estava em Paris com o apoio da sua universidade, que proibia claramente que os seus atletas competissem nesse dia.

Os Jogos Olímpicos viviam um período com uma organização muito diferente. Os resultados da qualificação contavam para a final, portanto Kraenzlein decidiu solidarizar-se com o seu grande rival e acordou que não iria participar também.

De acordo com os resultados da qualificação, Prinstein seria campeão olímpico com 7,17 metros, seguido de Alvin Kraenzlein com 6,93 metros O terceiro lugar da qualificação, conseguido pelo francês Albert Delannoy, estava longe de constituir uma ameaça (6,75 metros).

O problema foi que Kraenzlein roeu a corda e participou no evento de domingo. Saltou seis vezes para tentar melhorar a marca de Prinstein e só o conseguiu por uma vez. Pela diferença de um único centímetro (7,18 metros), Kraenzlein tornou-se campeão olímpico e despertou a fúria adormecida do seu rival.

Quando descobriu o que tinha acontecido, Prinstein foi pedir explicações ao rival e não resistiu a desferir um soco no nariz de Kraenzlein, sendo depois impedido pelos restantes elementos da comitiva norte-americana de continuar a descarregar a sua fúria.

No dia seguinte, porém, em prova, Prinstein fez questão de tomar para si o que achava que merecia: um título. Aconteceu na prova de triplo salto e estabeleceu um novo recorde olímpico, com uma marca de 14,47 metros que foi mais do que suficiente para bater James Connolly, o primeiro campeão dos Jogos Olímpicos da era moderna, por meio metro.

As tentativas de forçar uma desforra com Kraenzlein foram infrutíferas, uma vez que o seu rival decidiu terminar a carreira após Paris. Quatro anos depois, em St. Louis, deixou de haver impedimentos e garantiu a dobradinha no salto em comprimento e no triplo salto.