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É Desporto

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04 de Maio, 2019

Mundial-1995. A confirmação do novo fenómeno

Rui Pedro Silva

Noruega venceu a final

Se a fase final na China em 1991 foi vista como uma agradável surpresa, com bom futebol e com o público a marcar presença em peso, o Suécia-1995 serviu de confirmação do novo fenómeno: o futebol feminino tinha vindo para ficar e só iria continuar a crescer.

 

A confiança era tão grande que o presidente da FIFA, João Havelange, escreveu que já não era possível imaginar o calendário da FIFA sem o Mundial feminino. Sepp Blatter, o seu braço-direito, foi ainda mais longe e lançou uma profecia: «O futuro do futebol será feminino. Estamos convencidos que em 2010 o futebol feminino será tão importante como o masculino», dizia o suíço, relembrando que em 1995 havia 140 milhões de homens a jogar futebol e apenas 32 milhões de mulheres.

 

Que o primero Mundial feminino na Europa tivesse tido lugar na Escandinávia não foi surpresa. E se a Suécia organizou, a Noruega venceu. Não havia dúvida de que nenhuma outra parte do continente tinha uma influência tão grande do futebol feminino como esta e os resultados confirmaram-no. A expectativa de ter 100 mil pessoas nas bancadas, durante toda a prova, também foi superada, em 10%, mas ainda assim ficou muito aquém do que havia sido registado em 1991, onde esse número foi ultrapassado só com os jogos de abertura e final da prova.

 

Em sentido contrário, se o China-1991 teve pelo menos dez mil espetadores em todos os jogos, na Suécia houve um Canadá-Nigéria na fase de grupos que só foi visto por… 250 pessoas.

 

A diferença não foi considerada um fracasso porque China é China e Suécia é Suécia e, em todos os outros aspetos importantes, a fase final de 1995 demonstrou etapas de evolução muito promissoras. Os 26 jogos voltaram a ter um total de 99 golos, imitando a média de 3,81 por jogo, mas há um pormenor que pode ficar fora de vista.

 

Cumprindo as recomendações da maior parte das seleções em 1991, a FIFA decidiu estender o tempo de jogo e aumentar de 80 para 90 minutos. Para garantir que as seleções teoricamente mais fracas e com uma condição física mais deficiente não fossem demasiado prejudicadas, criou-se a possibilidade de cada seleção pedir dois descontos de tempo durante o encontro.

 

Sinais positivos para o futuro

Noruega-Alemanha foi o jogo da final

O relatório técnico do Mundial-1995 não deixa dúvidas sobre a ideia e bases que o futebol feminino estava a estabelecer. «As jogadoras estão a dar muitos e bons exemplos para jogadores de todos os géneros e escalões pelo mundo. O espírito de fair-play nunca foi tão evidente como nos jogos femininos e a sua dedicação para o futebol de ataque merece ser replicada. Claramente, o mundo tem muito a aprender com a abordagem das mulheres ao jogo.»

 

O presidente do Comité para o Futebol Feminino da FIFA, Poul Hyldegaard, escreveu que «em termos de técnica, tática, resiliência física e, acima de tudo, atitude mental, as mulheres das doze seleções provaram que o futebol feminino está a recuperar o terreno perdido nas últimas décadas».

 

Em relação a 1991, houve menos goleadas, apesar de a futura campeã do mundo, Noruega, ter batido sem dificuldade a Nigéria (8-0) e o Canadá (7-0). O Brasil continuava longe de ser a potência do futuro e terminou no último lugar do grupo A, sendo goleado pela Alemanha (1-6) durante a fase de grupos.

 

O balanço final destacou duas outras evoluções fundamentais: houve mais árbitras no lote, e com responsabilidades acrescidas: Ingrid Jonsson foi escolhida para arbitrar a final, por exemplo. E as próprias soluções de cada seleção tornaram-se muito mais completas, depois das críticas que haviam sido feitas à falta de profundidade em 1991.

 

A Noruega bateu a Alemanha na final por 2-0 e viu Ann-Kristin Arones ser premiada com o título de melhor marcadora, graças a seis golos. O prémio de melhor jogadora foi para a outra norueguesa: Hega Riise.

 

Portugal participou pela primeira vez numa fase de qualificação, o Europeu-1995, mas não foi além do terceiro lugar do grupo 6, atrás de Itália e França. Com três vitórias em seis jogos, destacaram-se a goleada caseira à Escócia (8-2) e o triunfo no terreno da apurada Itália na última jornada (2-1).