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É Desporto

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09 de Setembro, 2016

Michelle Stilwell. Uma deputada que faz história nos Paralímpicos

Rui Pedro Silva

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Foi eleita para a assembleia legislativa de British Columbia em 2013 e desde 2015 que ocupa o cargo de Ministra para o Desenvolvimento Social e Inovação Social no estado canadiano. Além disso, faz história como paralímpica. A primeira medalha foi no basquetebol, em 2000, mas já ganhou outras quatro no atletismo.

 

Das cavalitas à cadeira de rodas

 

Não era mais do que uma brincadeira inocente. Em casa, Michelle Stilwell estava às cavalitas de um amigo quando se desequilibrou e caiu nas escadas que davam para a cave. A cabeça embateu com estrondo num dos degraus e partiu o pescoço quando estava a poucos meses de terminar o ensino secundário.

 

A partir desse momento, nada voltaria a ser o mesmo. Condenada a viver numa cadeira de rodas, Michelle não permitiu que as suas limitações afetassem a forma como encarava a vida.

 

«Sempre andei com pressa. Fosse a andar de bicicleta para a escola, para o trabalho, a correr para algum lado. O cronómetro sempre esteve lá», explica.

 

Estreia paralímpica

 

A primeira vez que esteve nuns Jogos foi em 2000, em Sydney. Na altura fazia parte da equipa de basquetebol de cadeira de rodas do Canadá que venceu a medalha de ouro após derrotar a Austrália na final.

 

Tinha 26 anos e não fazia ideia das surpresas que a vida ainda lhe reservava. Depois de terminar a carreira na modalidade, começou a dar aulas de basquetebol em cadeira de rodas até ao momento em que foi importunada por um treinador de atletismo chamado Peter Lawless.

 

«Viu-me em campo e percebeu a rapidez com que usava as mãos. Eu diria mesmo que me assediou. Estava sempre a telefonar e a enviar e-mails a encorajar-me para tentar o atletismo», recorda, antes de contar como a primeira experiência a moldou para sempre.

 

Michelle foi ver um evento e, uma vez que já estava de cadeira de rodas, Lawless, convenceu-a a participar. «Assumi que era uma corrida de 100 metros [era de 1500] e acabei derrotada por um rapaz de nove anos. Jurei que nunca mais voltaria a acontecer. Foi aí que fiquei com o bichinho.»

 

História em Pequim-2008

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A mudança para o atletismo deu-se em 2004. No ano seguinte participou nos Europeus (pai é alemão) e em 2006 sagrou-se campeã mundial nos 200 metros.

 

Michelle estava lançada e quando chegou aos Jogos Paralímpicos de Pequim já era uma das principais favoritas, ganhando com naturalidade as provas de 100 e 200 metros na categoria de T52 (destinada a atletas com boas funções motoras nos membros superiores mas com limitações nos membros inferiores e no tronco). Nesse dia, tornou-se a primeira mulher a vencer provas paralímpicas em modalidades diferentes.

 

Quatro anos depois, em Londres, defendeu o título com sucesso nos 200 metros mas não foi além da medalha de prata nos 100. O trabalho de preparação tinha sido duro: meses antes da competição, mudou-se temporariamente com o marido e com o filho, autista, para a Austrália, unicamente para se focar no treino.

 

«Foi um grande sacrifício que todos fizemos», reconhece.

 

Vida mudou nos últimos quatro anos

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A Michelle que vai surgir em 2016 no Rio de Janeiro não tem nada a ver com a que se dedicou durante meses para vencer em Londres.

 

Em 2013, foi eleita para a assembleia legislativa de British Columbia e desde fevereiro de 2015 que ocupa o cargo de Ministra para o Desenvolvimento Social e Inovação Social no estado canadiano.

 

«As pessoas que votaram em mim vão ter alguém que vai trabalhar arduamente por elas, alguém que é dedicada e comprometida com a sua tarefa», garantiu na altura, prometendo usar a sua experiência de vida para ajudar a implementar mudanças e construir uma comunidade melhor.

 

A dedicação extrema faz com que tenha menos tempo e passe a vida a correr de um lado para o outro: «Na assembleia sou conhecida por embater em algumas pessoas quando viro a esquina. As pessoas dizem-me para abrandar mas isto faz parte da minha natureza. Tenho sempre umas 50 coisas para fazer e não quero deixar nenhuma para trás.»

 

Michelle Stilwell garante que não se lembra da última vez que teve verdadeiramente férias, uma vez que leva sempre os telefones consigo: «O meu trabalho é sete dias por semana, 24 horas por dia, não há botão para desligar.»

 

Aprendizagem no Rio de Janeiro

 

A canadiana de 42 anos vai participar pela quinta vez em Jogos Paralímpicos mas garante que todas as edições «têm uma componente de aprendizagem». «Há sempre coisa que podes concluir para melhorar ou que podes fazer de forma diferente. Sinto-me descontraída e confiante, sei o que posso esperar», acrescenta.

 

Stilwell vai competir nos 100 e nos 400 metros. A prova dos 200 metros, a favorita da canadiana, não conseguiu reunir candidatas suficientes e ficou de fora do programa paralímpico.

 

A canadiana chega ao Brasil sem patrocínios – abdicou deles assim que assumiu o cargo de deputada para evitar conflitos de interesses – e recusando receber qualquer verba governamental de apoio ao desporto paralímpico.

 

«Certamente que o dinheiro tornaria a vida da minha família mais simples, mas eu tenho um trabalho com salário. Há atletas em dificuldades financeiras que merecem uma oportunidade», justificou.

 

RPS