Michael Phelps. Quando as madrugadas não deram sono
Foi a narrativa mais acompanhada dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. Michael Phelps partiu para a China com o objetivo de superar Mark Spitz e conseguir o que nunca ninguém tinha alcançado: oito medalhas de ouro numa edição da prova.
A estreia do nadador norte-americano em Jogos Olímpicos aconteceu em 2000, em Sydney. Tinha apenas 15 anos, era uma das grandes revelações da natação dos Estados Unidos, e tinha o objetivo de se intrometer entre a elite nos 200 metros mariposa, a sua grande especialidade ao longo da carreira.
Pela primeira vez – e única – ao longo das suas participações olímpicas, ficou fora do pódio. Terminando no quinto posto, ficou a 33 centésimos da medalha de bronze e a mais de um segundo do seu compatriota, Tom Malchow, que venceu o título com um novo recorde olímpico.
Sydney é poucas vezes lembrado na carreira olímpica brilhante de Michael Phelps, que se estendeu até o Rio de Janeiro em 2016, com 23 medalhas de ouro, três de prata e dois de bronze, num recorde impressionante (e imbatível até prova em contrário, como tantos outros) de 28 pódios.
Se em Atenas fez história pela primeira vez ao igualar o recorde do ginasta Aleksandr Dityatin (Moscovo-1980) de oito medalhas numa única edição, graças a seis medalhas de ouro e duas de bronze, em Pequim-2008 o objetivo foi ainda mais ambicioso. Michael Phelps queria ser imortal e nadou para isso, atrás de umas impressionante oito medalhas de ouro em oito provas.
O mundo parou. Noite após noite – sempre madrugada em Portugal–, os fãs paravam para ver se o norte-americano tinha mais olhos do que barriga ou se aqueles braços longos como tentáculos iam garantir que se fizesse história à frente dos nossos olhos.
A melhor forma de descrever o que aconteceu? Foi incrível. Com quase nenhum tempo para descansar, Phelps correspondeu às expetativas e foi medalha de ouro nos 200 metros livres, 100 e 200 metros mariposa, 200 e 400 metros estilos, 4x100 e 4x200 livres e 4x100 estilos. O mais impressionante? Fê-lo com um total de sete recordes mundiais. Só nos 100 metros mariposa foi obrigado a contentar-se com um… recorde olímpico.
Entre as oito provas, duas ficaram na memória. A sétima que venceu foi talvez a mais histórica, não só por igualar Mark Spitz, mas porque esteve, até à última fração de segundo, em desvantagem perante o sérvio Milorad Cavic. No final, em super câmera-lenta, percebeu-se que a última braçada foi decisiva para vencer por apenas um centésimo.
A outra está mais ligada a Jason Lezak. Se Phelps tem hoje o recorde que tem, muito disso se deve ao fenomenal contributo do seu compatriota no último percurso da estafeta dos 4x100 metros livres. Os franceses tinham tudo na mão para serem campeões olímpicos mas, surpreendentemente, Alain Bernard não conseguiu manter a vantagem confortável nos últimos 50 metros. Ou, dito de outra forma, talvez tenha sido Lezak que teve uma experiência extrassensorial em que deslizou pelas águas de Pequim de forma absolutamente impressionante e garantindo que Phelps poderia manter o seu objetivo intacto.
«Os recordes sempre foram feitos para serem batidos, independentemente de quem fores. Toda a gente o consegue desde que se dedique a isso», garantiu Michael Phelps depois de cumprido o objetivo.
Com a tarefa mais difícil da sua carreira para trás, Phelps manteve-se na natação, com algumas pausas e polémicas pelo meio, para garantir que ficava mesmo no topo da história. Em Londres, somou mais quatro medalhas de ouro e duas de prata e no Rio de Janeiro, em 2016, despediu-se dos grandes eventos com cinco ouros e uma prata.
O denominador comum desde 2004? Phelps ganhou sempre a prova dos 200 metros estilos, mostrando que é verdadeiramente o nadador mais completo na história do desporto.