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É Desporto

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06 de Setembro, 2019

Michael Jones. O homem que não jogava aos domingos

Rui Pedro Silva

Michael Jones jogou sempre com o pai no coração

É considerado um dos melhores All Blacks do século XX e os colegas olhavam para ele como um dos jogadores mais completos do râguebi. Está na história da Nova Zelândia em Mundiais mas nem sempre conseguiu corresponder em campo: tudo porque se recusava a competir aos domingos.

Nasceu na Nova Zelândia mas começou por ser internacional pela Samoa, em 1986, num jogo contra Gales. Um ano depois, quando foi chamado para representar os All Blacks no Mundial-1987 não teve qualquer problema em mostrar por que viria a ser um dos jogadores mais importantes do râguebi mundial do século.

Há muitas formas de perceber que Michael Jones tem um lugar na história. Podíamos dizer que foi o autor do primeiro ensaio da Nova Zelândia em Mundiais, logo em 1987. Que, simultaneamente, esse foi também o primeiro ensaio em fases finais. Ou, curiosamente, que foi também dele o primeiro ensaio no Mundial-1991.

Mas não. Michael Jones será mais vezes recordado como o homem que não jogava aos domingos. Devoto cristão, prometeu ao pai no leito da morte que nunca jogaria aos domingos, por mais importante que o jogo pudesse ser.

A promessa foi cumprida e trouxe vários dissabores desportivos… pessoais e coletivos. Em 1991, Michael Jones falhou três jogos durante o torneio, inclusive o encontro da meia-final contra a Austrália, no qual os All Blacks acabaram derrotados pelos Wallabies por 16-6.

Em 1995, já com trinta anos, a Nova Zelândia foi obrigada a tomar uma decisão difícil e percebeu que não valeria a pena continuar a contar com o contributo de um jogador que poderia ficar de fora dos encontros decisivos – quartos-de-final e meia-final.

As limitações não o impediram, ainda assim, de ter uma carreira com muito para contar. Fez 55 jogos pela Nova Zelândia, foi campeão mundial e 1987, está historicamente ligado ao ensaio simbólico de 1987 e foi eleito como o terceiro melhor All Black do século XX, atrás de Colin Meads e Sean Fitzpatrick,

E conseguiu fazê-lo sempre sem pôr em causa a promessa que tinha feito ao pai ou a fé cristã. Sim, apesar de ser um jogador conhecido pelas suas implacáveis placagens dentro de campo, a violência nunca foi um problema para a sua espiritualidade. A resposta, citando uma passagem da Bíblia, não podia ser mais adequada ao seu papel dentro de campo: «É melhor dar do que receber».

E Jones sempre preferiu dar. Sem contemplações.