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É Desporto

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31 de Janeiro, 2018

Mia Manganello. A pausa sabática deu resultado

Rui Pedro Silva

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Atleta esqueceu os desportos de inverno depois de falhar a qualificação para Vancouver-2010. Concentrou-se no ciclismo durante seis anos mas não resistiu ao chamamento da patinagem de velocidade. À segunda tentativa, a recompensa chegou. 

 

Uma paixão que não derrete

 

«Se não consegues parar de pensar nisso, não pares de trabalhar nisso.» Mia Manganello apaixonou-se pela patinagem com oito anos e não demorou muito até revolucionar a vida da família para perseguir o sonho olímpico. Aos 13 anos, trocou a solarenga e confortável Florida pela friorenta mas propícia para os desportos de inverno Salt Lake City.

 

Entre 2003 e 2010, deu cada vez mais nas vistas na modalidade e competiu entre a elite das atletas norte-americanas. Quando chegou a hora da verdade, em vésperas dos Jogos Olímpicos de Vancouver, Mia ficou de fora das opções e viu o sonho fugir-lhe por entre os dedos.

 

O despedimento do seu treinador, uns meses antes das provas de qualificação, não ajudou. «Assim que ele foi despedido, a minha mente e o meu corpo ficaram uma confusão. Estava perdida no treino, insegura sobre o que fazer em relação a isso, sobretudo num ano tão importante. Quando a prova chegou, estava a léguas do meu potencial e falhei a qualificação. Decidi ‘retirar-me’ aos 20 anos», disse.

 

Mia passou da patinagem para o ciclismo. Foi uma opção natural. As qualidades que a faziam destacar-se na patinagem de velocidade ajudaram-na a ser uma ciclista mais propícia para os sprints, acabando regularmente no topo das etapas planas ou em alguns contrarrelógios.

 

Até que o bichinho reapareceu, durante uma visita a Salt Lake City no outono de 2015. «Queria apenas divertir-me um pouco no gelo mas depois das primeiras voltas, sentia-me nas nuvens. Sabia que estava exatamente onde deveria ter estado sempre.»

 

Regresso à patinagem de velocidade

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Não precisou de muito para demonstrar que a qualidade não tinha derretido, sagrando-se desde logo campeã nacional nos 3000 metros, superando a sua antiga melhor marca por quatro segundos. A supremacia numa outra prova tornou o óbvio impossível de ignorar e acabou convidada a integrar os trabalhos da seleção.

 

A partir desse momento, um único pensamento persistiu na sua mente: os Jogos Olímpicos de PyeongChang, na Coreia do Sul, em 2018. «Estava viciada e sabia que, a partir daquele momento, ainda tinha muito para dar ao desporto. Era altura de o fazer.»

 

Durante alguns meses, ainda assim, a patinagem de velocidade e o ciclismo conviveram. Mia Manganello competiu durante o Verão de 2016 em provas de estrada mas não conseguia deixar de pensar no regresso ao gelo na temporada seguinte.

 

Apesar de ter abandonado a sua grande paixão por alguns anos, a atleta norte-americana garante que foi «a decisão mais inteligente» que poderia ter tomado: «Tive a oportunidade de amadurecer enquanto atleta e mulher e ganhar toda uma nova perspetiva do desporto. Antes, fazia-o porque era a única coisa que alguma vez tinha feito. Agora faço-o por escolha. Nunca faço apenas o necessário porque sei que deixei coisas a meio».

 

Perseguição do sonho

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A paixão estava lá mas faltava atingir o sonho de qualificação para os Jogos Olímpicos. Não foi simples. Nos 3000 metros havia apenas uma vaga e ficou em segundo. Na prova dos 1000 metros, o terceiro lugar seria suficiente se… não tivesse falhado o mínimo olímpico por… 23 centésimos de segundo. Restava uma oportunidade: os 1500 metros.

 

«Fui com tudo para a corrida, sabendo que se fizesse a prova da forma que conseguia, iria garantir a qualificação. Sabia exatamente o tempo que precisava, os tempos de cada volta. Por isso, enquanto patinava e via os tempos no quadro do meu treinador a cada volta, sabia que ia num bom ritmo. Mas a última volta é sempre difícil, tive de ir buscar todas as minhas forças», disse.

 

Mia Manganello conseguiu. Teve o segundo melhor tempo (três vagas) e cumpriu os mínimos olímpicos. «Esperei muito tempo por isto e é tudo aquilo que pensei que fosse ser. É um momento pelo qual sonhava há muito, todos os dias, e não consigo acreditar que seja mesmo verdade.»

 

O sucesso foi uma lenta consequência de uma vida em que foi somando responsabilidades e novas perspetivas de olhar para o mundo, como quando crescia com os pais, donos de um restaurante italiano. «Não há nada melhor do que crescer numa cozinha. As lições e responsabilidades que aprendes são insubstituíveis e a maior recompensa é a quantidade de pizza que ganhas», garante.

 

Quando abandonar a patinagem de velocidade de vez, no final da carreira, é aí que pretende continuar: numa carreira culinária. Até lá, as prioridades estão bem definidas: «Quando vou para uma corrida, quero sempre que seja a melhor que alguma vez já fiz. É óbvio que prefiro terminar no pódio mas se não o conseguir fazer, fico satisfeita se sentir que deixei tudo em pista».

RPS