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É Desporto

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13 de Maio, 2019

Mia Hamm. Um nome incontornável dos Estados Unidos

Rui Pedro Silva

Mia Hamm era a goleadora de serviço

É impossível falar do Mundial de 1999 organizado pelos Estados Unidos sem referir o nome de Mia Hamm. Na altura com 27 anos, a jogadora que nasceu em Selma, no Alabama, sete anos depois da famosa marcha pelos direitos civis, era o corpo e a alma da seleção.

 

Campeã mundial em 1991 com 19 anos, na altura a jogar numa zona mais intermediária do terreno, Mia tinha acordado para o futebol ainda antes dos dois anos de vida. Obrigada a percorrer o mundo inteiro por causa da família, vivia a saltar entre bases aéreas dos Estados Unidos. Ainda antes de cumprir o segundo aniversário, em Florença, viu um pai e um filho a correr atrás de uma bola e fez o mesmo.

 

Mia encontrou o seu destino. Tinha o pé chato e usava uma bota ortopédica mas nada a iria impedir de fazer do futebol a sua vida. Com benefícios para todos, diga-se. Com cinco anos, no Texas, entrou pela primeira vez para uma equipa de futebol e a carreira universitária, ao serviço das North Carolina Tar Heels, foi tão impactante que perdeu apenas um dos 95 jogos que fez em cinco anos. Sem surpresa, foi quatro vezes campeã universitária e acabou nomeada a melhor atleta feminina que a divisão já tinha visto. O melhor atleta masculino? Michael Jordan.

 

A estreia pelos Estados Unidos teve tanto de importante como de trágico. Tinha 15 anos, estávamos em 1987, e ia assumir-se como a mais jovem de sempre a representar o seu país. Mas, no mesmo fim-de-semana, o avô e o tio morreram num acidente de aviação.

 

O simbolismo do evento não a afetou. Em 1991, na preparação para o primeiro Mundial feminino organizado pela FIFA, decidiu não jogar pelas Tar Heels de forma a garantir que nada falhava na preparação. Por essa altura, e depois de precisar de 17 jogos pelos Estados Unidos para marcar pela primeira vez, já começava a exibir a sua veia goleadora.

 

De avançada a… guarda-redes

Mia Hamm durante os festejos

Mia Hamm estreou-se em fases finais do Mundial a jogar no meio-campo mas não foi preciso esperar muitos anos até se assumir como avançada. E uma das melhores de sempre. Contudo, teve ocasiões para experimentar de tudo.

 

No Mundial da Suécia, em 1995, foi a solução encontrada para jogar como guarda-redes depois da expulsão de Briana Scurry. Os Estados Unidos venciam a Dinamarca por 2-0 e o relógio marcava 88 minutos. O risco não era grande mas Hamm correspondeu e garantiu a vantagem até ao apito final.

 

Quatro anos depois, chegou finalmente a temporada que iria eternizar Mia Hamm como uma das melhores de sempre. Logo em janeiro, num encontro particular contra… Portugal, a jogadora marcou e tornou-se a norte-americana mais goleadora da história, superando Michelle Akers. Em maio, já em vésperas da fase final, fez ainda melhor e tornou-se a jogadora com mais golos por uma seleção em todo o mundo: o golo ao Brasil, em Orlando, foi o seu 108.º, deixando a italiana Elisabetta Vignotto para trás.

 

O momento mais glorioso foi, ainda assim, no Mundial que os Estados Unidos organizaram. O segundo título mundial da sua carreira chegou apenas no desempate por grandes penalidades, depois de um 0-0 com a China. Mia Hamm, que marcou dois golos durante a prova, não vacilou no seu pontapé dos onze metros e contribuiu para a vitória final.

 

Os 120 minutos de futebol a meio da tarde na Califórnia passaram, contudo, uma fatura pesada. Mia ficou num estado grave de desidratação e desmaiou no balneário, forçando a equipa médica a abrir um acesso intravenoso para lhe dar três litros de fluido. A recuperação foi progressiva. Nas primeiras horas, Hamm não conseguia comer, beber nem falar e só começou a melhorar depois de dormir 12 horas consecutivas.

 

A recompensa foi grande. Internacional até 2004, despediu-se com dois títulos olímpicos e dois títulos mundiais. Esteve em quatro fases finais e, juntando Mundial a Jogos Olímpicos, registou 14 golos em 42 jogos. Até 2013 manteve-se como a recordista de golos pela seleção (158 em 276 jogos) e a nível pessoal conquistou duas vezes o título de melhor jogadora do mundo para a FIFA (2001 e 2002).

 

O currículo é riquíssimo e o seu caráter pioneiro também foi destacado: foi a primeira mulher a entrar para o World Football Hall of Fame.