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É Desporto

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24 de Agosto, 2017

Mayweather Jr. O boxe já lhe corria nas veias quando nasceu

Rui Pedro Silva

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Mayweather está para o pugilismo como Maldini está para o futebol ou Manning para a NFL. O júnior da família chegou mais alto mas contou com os contributos intermitentes do pai e dos tios, também eles dedicados a esta paixão. O confronto com McGregor não será apenas mais um: tudo aponta para a 50.ª vitória e com um mínimo de 100 milhões de dólares no bolso. Um circo, sim, mas um muito bem pago. 

 

A vocação para o soco 

Adaptação da versão publicada na edição do jornal i de 30 de abril de 2015, em vésperas do combate com Manny Pacquiao

 

A família Mayweather nasceu para o boxe, não há volta a dar. Quando o membro mais velho do clã, Floyd, nasceu a 19 de Outubro de 1952, deu origem a uma ligação que nunca teve tanto sucesso como agora. O filho com o mesmo nome é um dos melhores pugilistas da história e está prestes a ganhar um mínimo de 100 milhões de dólares no combate contra Conor McGregor  – mesmo que perca –, mas a vocação já vinha de há muito.

 

Com um ano, teve o pai a ensinar-lhe os primeiros golpes, numa paixão que também já tinha passado aos irmãos mais novos. O ambiente era propício. A paixão pela modalidade fez com que Floyd levasse a carreira no boxe a sério e se estreasse como profissional a 21 de novembro de 1974, numa vitória aos pontos contra Ron Pettigrew. Durante os quatro anos seguintes manteve um registo muito positivo, com 15 vitórias e uma derrota – contra Tyrone Phelps, por KO técnico.

 

A sequência de bons resultados ajudou a construir um nome no boxe norte-americano e foi assim que surgiu a oportunidade de combater Sugar Ray Leonard, a 9 de setembro de 1978. Foi o combate mais importante da carreira. Leonard tinha 13 vitórias em 13 duelos e ainda não ganhara qualquer título mas, tantos anos depois, aquele continua a ser visto como o dia do que «poderia ter sido».

 

E Floyd não gostou do que aconteceu – uma derrota, claro está. Queixou-se de ter sido avisado apenas duas semanas antes do combate e lamentou o facto de ter lutado com uma lesão – fratura da mão no combate anterior contra McKnight, duas semanas antes. E essa tem sido a desculpa para justificar a derrota no oitavo assalto, quando foi ao chão duas vezes.

 

«De todos os meus combates, se pudesse repetir um, seria esse. Não quero tirar nada ao Leonard, respeito tudo o que fez na carreira. Mas eu sei que, se a minha mão tivesse estado a 100 por cento, teria vencido», afirmou.

 

O contágio ao irmão Roger

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Roger nasceu a 24 de abril de 1961, nove anos depois. Se Floyd terminou a carreira em 1990 com 28 vitórias (17 por KO) em 35 combates, mas sem nenhum título, o irmão levou o nome da família ainda mais longe. Impressionado pelo que Floyd fazia, quis testar a sua sorte e aproveitou o conhecimento do irmão para ganhar vantagem.

 

Se um fez 35 combates, o outro ganhou 35 por KO, num total de 59 vitórias em 72 duelos. O primeiro aconteceu em julho de 1981 e no ano seguinte, em outubro, venceu o primeiro título, na categoria de pesos-leves da USBA (associação de boxe norte-americana). O sucesso continuou a surgir e acrescentou-lhe os títulos de superpesos-pluma da WBA e da WBC e de pesos-leves da IBO.

 

Curiosamente, Roger Mayweather antecedeu Kobe Bryant na alcunha de Black Mamba. «Queria uma que não fosse comum à maior parte das pessoas. Então, um dia, estava a passar pelos vários canais de televisão e num estavam a dar uma série de répteis, sendo que a Black Mamba [mamba preta] era uma das cobras mais mortais do mundo. Adorei o modo como atacava, de forma tão tranquila e, ao mesmo tempo, tão letal, precisando só de uma tentativa. Senti-me identificado», confessou.

 

A inteligência de Roger sempre foi uma das suas maiores imagens de marca. E apesar de ter competido até 1999, teve um papel fundamental no crescimento de Floyd Jr. enquanto pugilista, treinando-o até 1998, altura em que o irmão mais velho saiu da prisão e assumiu a responsabilidade. O cocktail era explosivo: com o pai, Floyd Jr. aprendeu a capacidade defensiva; com o tio, a inteligência para atacar no momento certo de forma a decidir o combate.

 

O irmão discreto

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E falta Jeff, o mais novo dos irmãos, nascido a 4 de julho de 1964. O dia é de festa nos EUA, mas o benjamim – na altura – da família nunca teve direito a grandes celebrações nos ringues. É certo que foi campeão júnior de pesos-leves da IBO duas vezes, mas não foi além disso.

 

Como profissional, obteve um registo de 32 vitórias, dez derrotas e cinco empates em 47 combates, mas nunca fez parte da elite. O duelo mais mediático apareceu em 1993 frente à então promessa Oscar de la Hoya, que disputava o quinto combate como profissional. A vitória foi para o jovem, por KO técnico no quarto assalto.

 

Tal como os irmãos mais velhos, Jeff também seguiu o caminho do treino, mas nunca esteve directamente envolvido com o sobrinho. De la Hoya seguiu um caminho de sucesso e terminou a carreira em 2008 com apenas seis derrotas: a última contra Manny Pacquiao (dezembro de 2008) e a penúltima contra Mayweather Jr. (maio de 2007).

 

A família Mayweather está unida em torno do Floyd mais novo, mas nem sempre foi assim. Com temperamentos explosivos – afinal, todos foram pugilistas –, os desentendimentos são uma constante, especialmente entre pai e filho. As escolhas de um para treinador, ignorando o pai de tempos a tempos a favor do tio, e as declarações do outro sobre o boxe, nem sempre defendendo o filho, geram problemas que estão retratados em mais do que um documentário sobre as fases de preparação de Mayweather Jr. para cada combate.

 

A disfunção familiar não passa para dentro do ringue, onde Floyd Mayweather Jr. continua a ser imparável. Com 49 vitórias em 49 combates como profissional desde 1996, o norte-americano mantém uma vida excêntrica que transborda confiança e não permite dúvidas sobre o seu sucesso.

 

Um pouco à imagem do pai, que continua a viver com a ideia de que, se a mão estivesse boa, nunca teria perdido com Sugar Ray Leonard. O combate frente a Conor McGregor não será, decididamente, o mais importante do clã Mayweather, assemelhando-se mais a um circo levado ao limite, entre uma figura do boxe uma estrela da UFC. 

 

Longe vai o tempo em que, com 180 milhões de dólares garantidos no bolso, Mayweather Jr. pôs o legado em causa no ansiado combate contra Pacquiao, em maio de 2015. Ao vencer, matou de uma vez por todas as dúvidas sobre quem era melhor, mesmo que a lesão no manguito do filipino tenha reacendido alguns argumentos entre os críticos do norte-americano.

RPS